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segunda-feira, abril 07, 2008

Ivair Souza, o catador de latinhas do Pânico na TV


Tive que fazer esse artigo logo. O computador já tava desligado, a internet caíra duas horas antes, mas eu precisava deixar esse artigo pronto ainda hoje, senão eu não ia conseguir dormir. Bati tudo no Word mesmo.

O Pânico na TV deste domingo, 6 de abril, fez uma matéria sobre a estréia da peça Os Produtores, estrelada por Miguel Falabella, Juliana Paes e Vladimir Brichta no RJ. Quem conduzia a matéria era a dupla Vesgo & Sílvio, cada vez mais sem graça, abordando os famosos e expondo muito deles a constrangimentos desnecessários.

Assistir ao Pânico numa noite de domingo é algo que caras como eu, solteiros sem perspectivas, são obrigados a fazer. Não fosse o final daquela mesma matéria, esse ia ser apenas mais um domingo daqueles em que a luz do seu quarto queima e você anda quase dois quilômetros para cumprir um compromisso que esqueceram de desmarcar com você.

Num dado momento, Vesgo e Sílvio escolheram Ivair Souza, um negro pobre, catador de latinhas, e lhe entregaram um convite para assistir à peça num lugar privilegiado.

Na entrada do teatro, uma recepcionista chegou a fazer pouco caso do catador, menosprezando seu trajar, dando a tentativa como impossível. Aos poucos, uma confusão foi se instalando no lugar. Seguranças barravam a entrada de Ivair, que já tinha o convite em mãos, e até o gerente foi chamado. Mais uma vez invocaram a má apresentação do catador, que no momento trajava uma bermuda jeans e uma camiseta, sujos. A dupla de humoristas, se o problema era aquele, tratou de resolvê-lo: o produtor do programa cedeu suas roupas, ficando só de cueca na porta do teatro. Ivair as vestiu, mas o impasse continuou.

A alegação do Pânico era simples – Ivair tinha o convite, ele tinha direito de assistir à peça. Isso é mais que óbvio. Não tinha o que discutir.

A imprensa presenciava todo o episódio. Não podendo esconder o desconforto, a gerência enfim permitiu a entrada de Ivair, que foi escoltado para o interior do teatro por um segurança. Vesgo e Sílvio pediram para o pessoal da imprensa checar lá dentro se Ivair ia mesmo assistir à peça. Disseram ainda que iam ficar aguardando o retorno do catador do lado de fora do teatro.

Minutos depois, eis que a dupla de humoristas recebe uma informação – Ivair tinha sido expulso do teatro. Foram checar a informação com os recepcionistas e os seguranças, que disseram que não tinham como checar, mas que era um boato sem fundamento.

Mas aconteceu. Ivair foi arrastado para os fundos do teatro, onde foi agredido por seguranças e ficou detido até chamarem a polícia. Tratado pior que bicho, ele mostrou uma marca da agressão, visivelmente arrependido de ter topado entrar nessa história, pois àquela hora ele já tinha catado suas latas e já estaria em casa, descansando. Mas não, estava sob a ameaça de ser preso por ser preto e pobre e ter cometido a audácia de querer assistir a um espetáculo público em meio a gente rica e famosa, sendo que muitos apresentaram o mesmo convite que ele e conseguiram se acomodar em seus assentos sem maiores problemas.

E depois fazem campanhas pra levar o público ao teatro. Não bastasse as entradas serem caríssimas, quando se tem uma em mãos, não se pode entrar por ser preto e pobre. Isso deve render por muito tempo, e sem dúvida a Sônia Abrão vai emprestar horas ao caso. E que se faça isso mesmo. Há muito tempo episódios como esse do Ivair Catador se desenhavam na minha cabeça, eu me perguntava como seria se isso acontecesse. E esse domingo, eu tive a infelicidade de ver o que eu imaginei se concretizando, numa ridícula realidade de preconceito e discriminação social. Foi pior do que eu imaginei.

VESGO & SÍLVIO NA ESTRÉIA DA PEÇA DE MIGUEL FALABELLA

PARTE 1

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Palavras muito bem escritas. Eu senti nojo ao ver esta reportagem e constatar o quão mesquinhas as pessoas - ou parte delas! - são. Não tem como! Existe preconceito SIM no Brasil e, não só aqui, como no Mundo inteiro. Infelizmente, foi assim, é assim e sempre será. Quando ao futuro, espero que não. Mas, é difícil. As pessoas estão cada vez mais... prefiro nem completar esta frase!

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