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segunda-feira, abril 28, 2008

Numa novela de época

Desde Chocolate com Pimenta (2003), a Globo se empolgou com produções epicistas no horário das 6, e nunca mais largou. A trama de Chocolate misturava Maria do Bairro com Betty, a Feia e muito humor pastelão, resultando numa novela muito boa para o horário, com uma audiência empolgante que resultou na confirmação de Walcyr Carrasco como um grande autor de novelas e gerador de dividendos na Globo. Antes de Chocolate com Pimenta, a última novela de época tinha sido A Padroeira, de 2001, também de Carrasco. Nesse meio-tempo, a emissora carioca continuava o ritmo de novelas "de tempo real", já que as de época eram exceções. Desde o fracasso da Salomé (1991), a Globo só foi produzir outra novela das seis de época em 1999, com Força de um Desejo, depois deu uma chance para Esplendor e O Cravo e a Rosa, em 2000. Depois, a emissora levou um susto com a confusão da Novela da Sandy (2001) e voltou a apelar para uma novela de época, A Padroeira.

SALOMÉ - CHAMADA



Recuperada do susto, produziu Coração de Estudante, que agradou, sendo acometida depois pelos maiores desfalques ibópicos da sua história recente: Sabor da Paixão (2002) e Agora é Que São Elas (2003), novelas ruins de doer, que o público cuspiu em cima. Depois disso, recuperou-se com a já mencionada Chocolate, seguindo de Cabocla (2004), duas novelas de época, que recuperaram o público perdido com aqueles fracassos. Até aí ela não tinha se dado conta do poder da ré cronológica nas produções, chegando a arriscar Como uma Onda em 2004 e se arrependendo profundamente.
Foi aí que a Glande Grobo ejetou Alma Gêmea (2005), o maior sucesso ibópico do horário até o momento, infelizmente escrita pelo Walcyr Carrasco. Uma novela de sorte, pois tinha o texto pior do que um chute no chongas, mas agradou. A história de Serena Conselheira da Mata e do Floricultor Incrédulo, e as maldades de Cristina formaram a mais bem-sucedida novela do autor na Globo, que chegou a ser chamado de O Senhor das 6.
Desde então, as novelas de época foram consagradas como o escopo intelectual dos autores e a garantia de uma fatia certa do público no horário.
Mas quem em sua santa fé assiste a essas novelas?
O público de uma novela das 6 é bem conhecido pela Gl
obo, que faz pesquisas específicas pra saber com quem está lidando. Os resultados mostram que esse público é geralmente formado de dondocas, velhas senhoras, adolescentes retardados que não mudaram de canal refletindo sobre o último episódio de Malhação, e donas de casa apreensivas que estão esperando os maridos chegarem e que não querem assistir a nada que as faça pensar ou que ingrediente a sua cabeça de mais apreensão.
Conhecido esse público, as histórias numa novela de época são bem melhor aproveitadas. Primeiro, porque os telespécs se encantam com o figurino, os dialetos, os carros antigos, a trilha sonora. E para o autor, as situações fluem bem mais fácil e repercutem bem mais na trama. Por exemplo, o marido que descobre que sua mulher está o chifrando no século 21 reage de forma bem diferente do marido do início do século 20 pra trás. Essa diferença de valores deixa o humor mais explícito e rápido de se entender. As características dos personagens estão mais à mostra, fugindo da dubiedade de caráter que todos nós já não escondemos como fazíamos décadas atrás.
E a Globo não pára de produzir novelas das 6 de época. Sinhá Moça não fedeu nem fragrou, fazendo mais sucesso em Portugal do que aqui. Pegando carona em O Profeta (2006), outro grande sucesso em audiência, veio Eterna Magia (2007), querendo trazer uma idéia diferente, misturando Wicca com Harry Potter e tentando manter o esteriótipo consagrado pelo público que assiste àquelas novelas. Jogou um Thiago Lacerda e uma Malu Mader sem descuidar da de menor Maria Flor, fazendo uma misturada doida, que ningúem gostou. Pra mim, se o elenco fosse outro, haveria até uma chance, mas não deu outra. Fiasco.
Depois, veio Desejo Proibido, trazendo uma história mais simples, mas simples demais, o amor impossível etc. Elogiada pela crítica, que abraçou a novela como a um filho bonitinho e bem escrito, o que de fato é, a novela não teve jeito, e foi encurtada. Fiasco.
E vem aí Ciranda de Pedra, que é... de época. Mas a Globo parece estar adotando uma outra estratégia, pra não mais correr grandes riscos com uma produção, sem abrir mão do epicismo. Essa tática, já testada recentemente em O Profeta, é apostar em remakes de novelas já aprovadas pelo público num outro momento. Aproveitar os roteiros, mudar uma coisa ou outra, e pronto. Depois é só apostar pro remake repetir o sucesso da versão original. E o que não falta para a Globo é acervo para remake, principalmente considerando que houve épocas em que se exibia uma novela a cada duas horas. Se a idéia pegar, não precisariam nem mais ser novelas epicistas, mas remakes de outros grandes sucessos, como de autores como Dias Gomes e Janete Clair, os mais respeitados autores da casa, que nunca fizeram novela pra ser encurtada.
Pela nova classificação indicativa, aquela merda em forma de classificação, as novelas das 6 tendem a ser cada vez mais água com açúcar, deixando os autores de pouca fé sem ter o que escrever.
E o possível fiasco de Ciranda de Pedra, que eu desejo do fundo do meu coração, quem sabe a Globo não cria juízo e não pára de apostar só em fórmulas prontas, dando espaço para novas idéias. Mesmo que essas novas idéias fracassem, nunca irão desgastar, pois são que são novas idéias. E novas idéias facilitam sua vida!


Um comentário:

  1. Amo esse blog, todo fim de semana passo aqui pra ler o que você escreveu. Gosto muito das suas críticas, pois são coerentes e de fácil entendimento. Parabéns!

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