segunda-feira, março 02, 2009

O CONTRATADOR DE DIAMANTES: 1º CAPÍTULO

Conhecendo
EPISÓDIO 1

Dezembro de 2007

O celular desperta com um toque tão assustador que a bela adormecida cai da cama.
- Desgraça! – Gritou a dorminhoca com a cabeça ferida. Ela levanta, desliga o despertador do celular e segue para o banheiro onde tem o segundo susto ao se olhar no espelho. – Estou a cara da morte. – Disse ela jogando água em seu rosto. Arrumou-se o mais rápido que podia, calçou os tamancos enquanto caminhava e acelerou o passo até chegar ao seu destino com dez minutos de atraso.
Alinhar ao centro
-Bom dia, Vânia. – Alessandro cumprimentou, ajeitando algumas roupas para por na vitrine do pequeno Empório do Contratador de Diamantes, que de fato já vendeu diamantes e outras pedras preciosas, mas hoje se dedicava mais a roupas e acessórios femininos, pois as jóias começaram a fugir do orçamento dos clientes.
O empório foi batizado com esse nome pelo fato de que seu dono, Daniel Caleb Fernandes, acreditar ser descendente direto do contratador João Fernandes – amante da escrava Xica da Silva. Daniel deixou escapar esse breve comentário genealógico apenas uma vez, e foi suficiente para que ninguém acreditasse. Mas ele apenas disse que acreditava quem quisesse, que isso não era problema dele. Era um homem ríspido e de poucos amigos, e que não era visto com muita simpatia nem pelos próprios funcionários:
-Bom dia. Hitler já chegou? – Perguntou Vânia preocupada indo organizar a mesa do caixa.
-Para sua sorte, ainda não. – Respondeu Carlos, que vinha do depósito com alguns ternos na mão para colocar na amostra.
-Bom dia, Vânia. – disse Babi, consertando o uniforme de vendedora enquanto o chefe os cumprimentava ao seu jeito:
-O movimento já começou? – Perguntou o chefe Daniel, sisudo como sempre, com a cara de homem que assina pessoalmente os cheques dos funcionários e tem direito a toda satisfação que exigir.
-Calma. Abrimos faz dez minutos. – Disse Alessandro ajeitando os últimos detalhes da vitrine.
-Mas estamos em dezembro. E o movimento já vai começar. –Disse Daniel olhando ao seu redor e sentindo falta de algo. – Cadê a Simone?
-Deve estar chegando por aí. – Defendeu Carlos terminando de por os ternos.
-Deve estar chegando? O horário dela é às oito em ponto e já são oito e vinte. Ela já está abusando. –Reclamou Daniel indo para o seu escritório.
-Hoje vai ter guerra. Adolph já está quase demitindo a Simone. –Lembrou Babi.
-Pois é. Ela sabe disso e ainda fica se atrasando. Eu não digo mais nada. –Disse Carlos.
-Liga pra ela, Vânia –Pediu Alessandro. A moça certificou-se de que Daniel não estava olhando e ligou para o celular de Simone pelo telefone da empresa.
-Onde você está, sua louca. O Daniel já chegou e já perguntou por você. –Informou Vânia, a ligação durou 30 segundos. Desligou e resumiu para todos: – Disse que ainda está em casa, mas que já está saindo.
-É hoje que ela vai ganhar os tempos dela. –Disse Babi quando 40 minutos depois que a loja estava cheia de clientes, Simone chegou e teve o azar de Daniel também estar atendendo um cliente, vendo assim a hora da chegada.
-Você demorou demais. –Cochichou Alessandro. –Atenda aquela cliente ali, antes que as coisas piorem. –O movimento durante amanhã foi intenso, não deu para Daniel brigar com Simone. Não deu até a hora do almoço, até lá ela esperava que ele se acalmasse, mas logo viu que não.
-Antes de você sair para almoçar, a senhora quer, por obséquio, me dizer por que chegou uma hora atrasada? –Perguntou Daniel com raiva. Ela olhou para os companheiros.
-Meu marido foi despedido, hoje ele foi mais cedo ao trabalho conversar com o patrão, a minha babá demorou de chegar, eu tive que ficar com as crianças, o mais novo vomitou a casa inteira, eu ainda tive...
-Chega! Quer dizer que seu marido foi despedido?! Não me diga. Por hoje passa. Mas sobre o seu marido é melhor pedir o divórcio, pois ele vai virar um gigolô sanguessuga, pode apostar.
-Nossa, como o senhor é animador.
-Eu sou realista e quem não gostou, alugue um filme da Disney. –Disse Daniel indo embora.
Os cinco funcionários – Vânia cheia de fome, Carlos cantando uma canção, Alessandro no coro, Babi reclamando, e Simone exausta –, foram comer no restaurante frente à loja, o de sempre. Antes, passaram no salão de beleza vizinho para chamar a amiga Amoris, que não os pode acompanhar, pois estava fazendo um relaxamento.
-Também achei que eu ia ser despedida hoje. –Disse Simone estressada limpando a mesa do restaurante com um guardanapo.
-Mas desse jeito, você quer o quê? –Perguntou Vânia.
-Meu amigos, vocês não tem noção do que eu estou passando. O homem só fala que vai ficar desempregado e que não vai encontrar outro trabalho. É um chororô, como se não me bastasse ter as crianças. E eu tô nervosa. Desde que ele soube que ia ser cortado da empresa, nunca mais deu uma.
-Uma o quê? –Perguntou Babi.
-Você já tem 19, né Babi? –Perguntou Simone para garantir. –Nunca mais deu uma picada. Se é que vocês me entendem.
-Será que tá virando gay? – Questionou Carlos, Simone fez cara de ofendida. – Nunca se sabe... Porque eu posso estar com o problema que for, que o meu tesão não reduz nem um milímetro.
-Mas também pudera. Você é o maior pervertido que eu conheço. –Criticou Alessandro.
-Deixe de despeito! Você só está falando isso porque está doido para namorar e ainda não encontrou ninguém. – Carlos jogou na cara.
-Mas o que eu posso fazer? Ninguém dá mais valor a um homem responsável e inteligente. – Reclamou Alessandro.
-Já sei! Vamos marcar uma noite para arranjarmos uma namorada para o Alessandro. – Apimentou Vânia.
-O Alessandro não arranja por causa do desespero. Ele é muito desesperado. – Disse Babi.
-Ah, então é por causa do desespero que você não consegue passar no vestibular? – Perguntou Alessandro justamente para tocar na ferida. Babi quase que começa uma briga, mas a comida chegou e todos foram salvos pelo arroz.
O dia de trabalho terminou, e como todos tinham afazeres, cada um foi para sua casa. Perto de chegar em casa Vânia ligou seu celular e depois começou a pensar sobre natal e ano novo, afinal de contas o que isso tinha de especial? Por ela, passaria horas pensando sobre isto, mas uma ligação interrompeu seu pensamento. Era o trabalho lhe chamando.
Vânia tomou banho, prendeu seu volumoso cabelo frente ao espelho e meia hora depois passou pela porta da sua casa como outra, mas precisamente, como Elvira. Entrou no carro que já a esperava e no banco de trás consertou sua blusa (conserto = aumentar o decote). O carro entrou numa mansão e quando este parou a porta foi aberta por aquele que a esperava.
-Como vai o meu presente de natal?
-Vou ótima. – Respondeu Vânia; quer dizer, Elvira. Uma jovem prostituta de peruca ruiva de penteado chanel, saia jeans curta com cinto de couro largo, blusinha vermelha decotada e boca com batom vermelho e delineador preto.
Elvira e o viúvo milionário foram para o quarto. O velho tinha 57 anos e era até conservado.
-Antes de fazermos, será que nós dois podíamos conversar um pouco? Eu pagarei o tempo extra.
-Tudo bem. Só não poderemos nos estender muito porque daqui a duas horas tenho outro programa.
-Desmarque. Eu lhe darei 3 mil para você ser apenas minha hoje. É o meu presente de natal. –Elvira sentou-se, cruzou as pernas, estendeu a mão para receber o dinheiro, ele a pagou.
-Com toda parte chata já acertada, pode começar, desabafe o quanto quiser. –Disse Elvira que apesar da roupa vulgar, se encontrava como uma psicóloga atenciosa, cuja diferença era que cobrava mais caro e que fazia outros serviços, que a maioria das psicólogas não faria.
Do outro lado da cidade, Babi já estava com os olhos ardendo de tanto estudar. Dia 23, ela prestará o vestibular de uma universidade federal.

Alguns quarteirões depois, Simone colocou todos seus três filhos para dormir. Seu marido estava no sofá sem camisa assistindo a mais um enfadonho especial de fim de ano, daqueles que ninguém agüenta mais ver na Globo. Simone sentou ao seu lado.
-Por que você não vem pra cama comigo? Vamos aproveitar que estão todos dormindo. –Chamou Simone se aproximando a ele.
-Não estou com vontade. O meu também está dormindo e não sei quando vai acordar. Tira seu peso de cima de mim. –Disse o marido, afastando-a.

Alguns dias se passaram, e os cinco amigos jogavam conversa fora enquanto o movimento da loja não exigia maiores turbulências. E também, o chefe totalitarista ainda não voltara da rua.
-E como foi o vestibular? – Perguntou Carlos na loja, no primeiro dia útil após Babi ter prestado as provas para uma universidade federal. Na ocasião, ele ligara para a amiga desejando boa sorte, e os demais colegas de loja optaram por mandar torpedos.
-A prova estava mais ou menos. Mas só tinha japonês na minha sala. Depois fui ver a lista direito. Era Marcela Toshiba, Henrique Yakusa, se brincar até o Jaspion estava lá. –Respondeu Babi.
-Por isso que eu não gosto de japonês. Foi um japonês que pegou minha vaga na faculdade, fiquei tão arrasada que resolvi casar e agora estou aqui. Tomara que os terremotos no Japão mate todos eles. –Brincou Simone. – Ah, e desculpe por não ter falado com você ontem, Babi. Tentei, mas os meus filhos estavam impossíveis. Era tanta coisa na cabeça que eu me esqueci de você. – justificou-se, e Babi fez um gesto dizendo que estava tudo bem.

Quando o expediente terminou, os cinco passaram no salão para dar um feliz natal à Amoris.
-E você vai fazer o quê amanhã? –Perguntou Alessandro.
-Vou viajar, coração. –Respondeu Amoris na porta do salão, pois o interior estava entupido de gente. Amoris era uma cabeleireira moderna, falava o que vinha à boca, sem contar que já viajou quase o mundo inteiro. Uma cabeleireira poliglota. Ela tem um jeito despachado, por isso que seu salão vive cheio. Ela é do tipo que masca chiclete, ri alto e fala também com as mãos. –Vou contar um dilema pra vocês, eu estou hiper, ultra, mega, power, cansada. Não agüento mais ficar respirando laquê. Mas, agora tenho que voltar, porque estão todas nervosas aí dentro. Boas festas pra todo mundo, só não vou abraçar vocês porque abraçar 5 cansa muito. Beijinhos. – Despediu-se entrando no salão.
-Boas festas. – responderam todos. Amoris se despediu com um tchauzinho e voltou a dar atenção para suas clientes.
-Muito bem, quem é a próxima? –Gritou Amoris nervosa. Ela mudava de humor muito rápido.

Vânia chegou em casa e ligou seu celular. Ela não fazia programa todos os dias, só quando tinha vontade para isso. Seu emprego na verdade era para disfarçar, pois ela tinha saído de casa contra a vontade de sua mãe, sempre quis ser independente. Ter uma vida dupla era difícil, logo mais com uma mãe que vivia em seu encalço. Ela não faz programas por gosto, mas acha que só o salário de vendedora é pouco e acaba fazendo este tipo de hora extra. Ela começou a fazer, numa época que estava passando por um aperto. Pensou que seria apenas um, mas aí o primeiro cliente indicou um amigo a ela e a coisa foi crescendo. Ganhar dinheiro fácil é um vício. Todo mês Vânia coloca seu anúncio em jornais e revistas, todo mês um nome diferente, sempre o nome de uma das personagens de Xica da Silva, a novela que ela mais gostava.
Vânia tinha uma razão para odiar natal, por isso estava esperando ter algum programa para não entrar em crise.

Outro que também estava com medo de entrar em crise era Alessandro, mais um natal sozinho. Estava cuidando da casa de um amigo que viajara para a Europa; e pelo menos a casa era uma mansão, tinha muitas coisas para se fazer. Pensou em chamar seus amigos, mas acabou desistindo.
Na biblioteca da casa, ele começou a ver alguns periódicos e encontrou uma revista pornô, apesar de não gostar desse tipo de material, ele foi folheando até que um nome lhe chamou atenção: Violante. Era um anúncio de uma garota de programa, ele achou a ideia tentadora e acabou telefonando para marcar um programa.
O celular secreto de Vânia chamou e ela atendeu fazendo voz sensual já que era o celular vermelho. Alessandro por pudor, ou medo tentou disfarçar a voz, combinou o preço e deu o endereço à Violante. Assim Vânia foi se transformar.
Um táxi a deixou frente à casa, o portão foi aberto e uma surpresa para ela foi feita.
-Oi, tudo bem com você? –perguntou Alessandro totalmente sem jeito diante daquela situação constrangedora. Constrangedora para ele que não percebeu que aquela garota de programa era sua amiga, mas para ela, aquela situação era meta-constrangedora. Ainda bem que o disfarce da Violante era um dos que mais a mudavam. Mesmo assim, ela teve medo que ele a reconhecesse, então tratou logo de ir embora sem levantar suspeita.
-Gato... –Iniciou com uma voz sensual. –Desculpe, mas meu instrumento de trabalho está dolorido, então não vai rolar. –Disse Violante indo embora. Alessandro não disse nada, apenas achou estranha a reação dela, mas por outro lado achou melhor. Aquilo era demais para ele.
Vânia encostou-se ao muro para aliviar-se do fino que tirou para ser descoberta. Pegou um táxi de volta para casa, ainda estava assustada, apesar de ter se saído muito bem. Ela voltou para casa se sentindo péssima, pois imaginou como seria para ela se alguém descobrisse sua segunda profissão. Ela morreria de vergonha.

Carlos passava seu natal na cobertura do seu prédio, junto com os demais moradores. Lá, ele não tinha amigos íntimos, mas conhecia seus vizinhos de elite, com os quais ficou sentado. O único problema da noite foi a Família Drogueda, de descendência austríaca, que o olhou muito torto.
-Como esse negro consegue pagar o condomínio? –Perguntou o patriarca em tom de reprovação. Carlos percebeu, pois o vizinho não fez questão de ser discreto.

Simone, após dar os presentes para seus filhos e comerem todos à mesa um belo peru, ficou lavando a louça enquanto seu marido e seus filhos assistiam ao Shrek – Especial de Natal. Depois assistiram ao Especial da Xuxa e foi aí que eles dormiram. Chegou a hora de seu presente, mas o saco do Papai Noel estava vazio.
-Eu tô cansado. Vou dormir. –Recusou seu marido, indo para a cama. Simone quase chorando no sofá permaneceu firme, até que começou a Missa do Galo, então ela não agüentou mais e deixou cair algumas lágrimas para representar sua tristeza ao galo que não cantou naquela noite.

Dia 26
-Atenção figurantes do Fantástico Mundo de Lula. – Chamou Daniel a todos seus funcionários. –Eu quero que vocês conheçam a Carla. –Disse ele apresentando a nova funcionária provisória. –Ela vai começar nesta semana, porque a partir do dia primeiro de janeiro, o Alessandro sai em férias e ela o substituirá. –Disse Daniel. Alessandro e Carlos ficaram de queixo caído. Carla era loira, alta, sensual, bronzeada e ao sorrir parecia iluminar tudo ao seu redor.
-Vânia, você não quer trocar minhas férias de janeiro pelas suas de setembro? –Perguntou Alessandro de olho na provisória.
-Não, obrigada. Adoro setembro para tirar férias. –Disse Vânia entrelaçando seu olhar com o da Simone e o da Babi. As três diziam o mesmo: Periguete.
Na hora do almoço, os cinco foram almoçar, a nova funcionária almoçou em sua casa que ficava à dois quarteirões.
-Aquela menina tem cara de preguiçosa. Vai ver só aceitou trabalhar aqui, porque fica perto da casa dela. –Destilou Simone.
-Bitch, tu es muy nerviosa. –Disse Amoris, bronzeada da praia, juntando sempre mais de um idioma na mesma oração. Nem sempre acertando.
-E você queria o quê? Nem no natal gente, nem no natal, o brocha do meu marido deu uma. –Reclamou Simone.
-Já tentou viagra? –Perguntou Carlos.
-Não queria chegar a este ponto.
-Pior fui eu, que contratei uma prostituta. –Revelou Alessandro, Vânia se engasgou e começou a tossir. Todos ficaram parados. – Foi uma loucura. Mas não chegou acontecer nada não. Ela chegou na casa onde eu estava, mas quando entrou disse que o instrumento de trabalho estava dolorido e foi embora. –Todos caíram na gargalhada, exceto Vânia que deu um risinho falso. –Mas o mais engraçado é que o nome da menina era Violante. – Foi outra risadaria, afinal todos eram fãs da novela Xica da Silva.
-Então foi por isso que ela foi embora. Queria continuar casta. – disse Babi. Todos voltaram a rir. Pense em uma turma risonha.
-Depois eu fiquei pensando: o que leva uma pessoa a chamar uma prostituta. Eu achei bom ela ter ido embora, porque se não, eu irei transar, pagar, depois ela ia embora e eu continuaria só. Iria ficar pior ainda. –A última frase ficou gravada na memória de Vânia. Tanto que ela começou a lembrar do que sua mãe lhe dissera ontem:

-Você saiu de casa para ser independente, para crescer na vida, mas não estou vendo mudança nenhuma. Trabalha numa loja de roupas, não estuda e ainda por cima está cheia de cravo. Olhe pra mim, não tenho um cravo. Você parece acabada, por acaso está tendo uma vida sexual ativa desregrada é? – Perguntou Dona Lia em seu tom firme e cortante como uma faca. Ela era direta sem rodeios, fazia o estilo: doa a quem doer. Vânia ficou sem graça.
-Claro que não, mamãe.
-Sexo só deixa a pessoa bonita, quando é com um só e com a pessoa que se ama. Quando é para descaração, a pessoa fica feia. E deixa os outros feios também. Qualquer dia eu vou ao seu emprego, vê se é ele quem está lhe acabando assim. Porque eu estou velha, mas estou muito mais bonita que você. –Disse Lia sem falsa modéstia.

Ela detestava ir à casa de Dona Lia, pois sempre voltava pior.

Dia 27
-Carla, você tem namorado? –Perguntou Alessandro que criou coragem, após muito pensar. Ela o olhou sorridente, jogando seus cabelos loiros para o lado.
-Não. Mas eu adoro um negão. Será que o Carlos tem namorada? –Perguntou Carla interessada olhando para o negão que atendia um cliente. Alessandro sorriu sem graça, respondeu a verdade e ainda prometeu dá uma de cupido, antes de entrar em férias.

Dia 28
Logo ao chegar à loja, Babi grita de dor, quando arranca demais a unha do dedo polegar, a qual roia compulsoriamente.
-Menina, desse jeito você vai ficar sem dedo. –Disse Simone tentando ajudar.
-É que o resultado da primeira fase do vestibular sai no dia 31. Eu tô tão nervosa que já comi todas minhas unhas. –Disse Babi batendo a perna, enquanto Simone tentava dar um jeito.
Algumas horas depois, quando a loja já estava quase cheia, um casal de clientes entra na loja e para o desprazer de Vânia, Daniel manda atendê-los, já que o restante está ocupado.
-Por favor, chefinho. Quebra esse galho pra mim. –Pediu Vânia.
-Eu nem vou lhe dizer o que eu vou quebrar, se você não for atendê-los. –Brigou Daniel.
-Bom dia, Uziel. –Cumprimentou Vânia tentando se fazer de forte. Uziel era seu ex-noivo, ele a deixou para casar-se com outra. Tal decepção impulsionou Vânia a sair de casa e crescer na vida, tudo para talvez um dia mostrar a ele que ela não é inferior. Uma defesa complexa do psicológico.
-Oi, Vânia. Não sabia que trabalhava aqui. –Disse Uziel um pouco sem graça. Mas era melhor agir naturalmente. –Você já conhece a minha esposa, não é? –Vânia olhou para o rosto da esposa do homem que ela amava. A mulher usava um vestido tom pastel e segurava uma bolsa Victor Hugo. Era fina, dava até raiva. Seu nome era Renata e ela sabia que aquela vendedora, com o uniforme amassado, era a ex de seu marido. Mas mesmo assim...
-Renata, prazer. –Estendeu a mão como uma diva.
-Vânia, o prazer é meu. –Respondeu ela fazendo das tripas coração. O casal comprou dois vestidos e um sapato, os mais caros, e pagou sem pedir desconto.
-Obrigado, Vânia. Espero que não haja ressentimento entre nós. – Disse Uziel afastado de sua esposa.
-Eu nunca teria ressentimentos, porque apesar de tudo eu gosto...
-Eu tenho que ir. – Uziel a interrompeu de propósito, e foi acompanhar a mulher.
Minutos depois, aos olhos dos clientes, Vânia voltou a trabalhar, mas não parou de pensar: o homem que mais amava, era o que menos lhe dava valor. Foi aí que Vânia percebeu que os homens pagam para tê-la, mas que nunca pagarão o suficiente para ela um dia poder comprar o homem que deseja.

Dia 29
Carlos e Alessandro saíram sozinhos no sábado à noite, porque eles continuavam com o plano de encontrar uma namorada para Alessandro. Mas enquanto a dita não vinha, Carlos resolveu desabafar.
-Alê, eu acho que estou lhe enganando numa coisa. Eu saí do Rio pra não ser igual aos meus irmãos, mas eles me mandam um dinheiro de lá. Por isso, eu consigo pagar o condomínio do prédio. Você acha que eu devia parar de receber esse dinheiro e me mudar? –Perguntou Carlos.
-Não sei, não me pergunte isso. Pra mim pode ser fácil te julgar por você viver com dinheiro de traficantes, mas... A vida é sua. –Disse Alessandro sem mostrar decepção.
-É. Acho que tenho que decidir isso sozinho. –Disse Carlos pensando.

Dia 30
O celular de Carla toca, ela atende.
-Carla, eu estou aqui na loja. Tem como você dar um pulinho aqui? –Pediu Daniel que só não ordenou, porque ela não tinha obrigação de ir e também porque se mandasse, não alcançaria seu objetivo.
Ela chegou à loja, vestida à paisana, shortinho jeans e tomara-que-caia.
-Chamou, chefinho? –Perguntou ela rindo, com um jeito provocante.
-Chamei. Eu gosto das coisas bem esclarecidas, por isso lhe chamei. Você quer ser efetivada? –Perguntou Daniel com sua brutalidade habitual.
-Quero. –Disse Carla encarando a brutalidade erótica. –Em todos os sentidos. –Deu o ultimato e outras coisas a mais. Os dois foram para o provador, onde tiveram um fim de tarde selvagem.

Dia 31
Último dia do ano, e também último dia do trabalho de Alessandro. E já estava acabando. Daniel saiu do escritório para ir embora, mas antes desejou algo a todos.
-Desejo a todos vocês que estejam aqui no dia 2, sem ressaca, ou demitirei todos. Carla, venha comigo ao Banco depositar uns recibos e de lá você pode ir para casa. –Disse o chefe. Os dois foram embora.
-Ele vai depositar é outra coisa. O Banco já fechou há horas. –Disse Carlos, enquanto Babi, aproveitando a saída de Daniel, estava vendo algo na internet e deu um grito.
-Eu passei na primeira fase! –Seus amigos bateram palmas.
-Vamos aproveitar que o Mussolini já foi embora e vamos sair mais cedo pra comemorar. –Vibrou Carlos.

Não foram muito longe, apenas ao restaurante da frente, porque assim Amoris poderia participar. Quando o assunto do vestibular da Babi já tinha passado, a cabeleireira fez uma pergunta indiscreta.
-E seu marido, Simone, já voltou a dar conta do recado?
-Nem dos recados do Orkut, quanto mais este. E já desisti. Parece que ele não... – Todos perceberam a gravidade do assunto, quando Simone começou a perder a voz. Vânia a abraçou consolando.
-Mas amiga, você tem que fazer alguma coisa – disse Amoris. – Vamos lá ao meu salão que eu vou fazer esse homem ficar louco por você.
-Esqueça, perua! Você cobra 30 numa escova. Eu tô falida. – respondeu Simone, triste. Amoris se levantou da mesa.
-Vem logo pro salão que eu vou te dar um trato de graça. Mas logo, antes que eu me arrependa. Vânia, que já tinha pensado no assunto, tirou da bolsa uma roupa íntima caríssima que trouxera da loja.
-Usa, mas não tira a etiqueta. Morre aqui, tá, gente? – Vânia pediu apoio.

Simone chegou em casa outra. Escova, banho de brilho, depilação. Seu marido a olhou, mas não disse nada. Decidida, ela se arrumou, os filhos também, e levou toda a família para casa da sua sogra. Esperta como uma raposa, deixou os filhos com a avó e voltou para casa com o pretexto de que estava passando mal. Às dez e meia, o marido saiu da casa da mãe para ver se sua esposa tinha melhorado, e foi aí que esta lhe fez uma surpresa.
-Estava te esperando. –Disse Simone, quando ele abriu a porta do quarto e a viu encostada na cabeceira da cama com uma lingerie vermelha e uma taça de champanhe na mão.
-Por favor, Simone. Você está parecendo uma cadela no cio. –Disse o marido desanimado, virando as costas. Ela correu até ele e o segurou pelo braço.
-Olhe pra mim. Eu sou mãe, dona de casa, trabalhadora, mulher, eu dou a minha bunda para dar conta de tudo. E você, só porque foi demitido daquela merda de emprego, não consegue mais ser homem? Eu te amo, mas se você não for capaz de ao menos lidar com o fato de que está desempregado, mas que deve correr atrás do prejuízo e ser um marido para sua mulher e um pai pros seus filhos... –Antes de continuar ela abriu um parêntese. –Você nem olha mais para mim. –Ele abaixou a cabeça.
-Desculpa... Desculpa. –Disse ele a abraçando. – Você está certa – respirou. – Mas nunca duvide que eu também te amo. –Declarou-se, beijando-a. Os dois foram para cama. Uma, duas, três e ele dormiu. Mas ela não. Saiu de casa, para se encontrar com seus amigos na praça.
-Olha aí a Simone chegando. –Disse Alessandro. –Você já comeu Sissy?
-Não. Mas acabei de... Esqueça. Ia soltar uma piada péssima. Resumindo: tirei o atraso!– Comemorou Simone.
-Que emoção emocionante. –Redundou Babi rindo.
- Faltam 5 minutos para o ano novo. –Disse Carlos.

O motivo para se gostar tanto do natal e do reveillon, não são as luzes que iluminam a cidade. Não são as comemorações ao lado dos que amamos, muito menos os especiais de fim de ano na tevê. Não é dádiva de receber, nem o prazer de dar um presente. Não são os mutirões de caridade e muito menos os feriados.
Essas datas são queridas graças à renovação da esperança. Assim como uma gordinha espera a segunda-feira para começar uma dieta, uma jovem espera que dessa vez se realize seu sonho de chegar à universidade, um rapaz espera poder deixar de depender do dinheiro sujo dos irmãos, uma esposa espera melhores dias para sua família, uma moça espera deixar uma antiga profissão e um adulto desesperado espera encontrar a mulher dos seus sonhos.
A mudança é sempre almejada com ansiedade nesta época do ano. E aqueles que não gostam destas datas, é porque desistiram de esperar pela mudança que nunca chega.
Mas até o mais descrente, quando ouve os fogos de artifícios da virada do ano, uma faísca de esperança pela chegada da mudança, brilha em seu coração.
-Feliz ano novo. –Desejaram os cinco amigos, um ao outro, enquanto os fogos da esperança de mudar explodiam no céu.

CONTINUA
NA SEMANA QUE VEM

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Vergonha
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Um comentário:

EU SOU ASSIM disse...

antony o amor que não morreu.

tema central:léo se apaixona-se pelo seu melhor amigo antony(tony);mas na cabeça de tony os dois são quase dois irmão... até que dertinado momento léo fala desse amor em uma festa, no memento que o son para.todos ouvem o que ele diz....

os dois são separado por dez anos.
tony casa,léo fica sua espera.
eles se reencontram ...
a familia de tony nunca aceitou ter filho gay.
a esposa de tony tenta mata léo;
léo fica entre a vida e a morte, o unico que pode salvar a vida de léo
é o pai de tony ,que odeia léo...

acredito eu que essa sera a primeira web-serie que fala do amor de dois homens de uma forma verdadeira sem falar de sexo ou droga.
fala tb do preconceito,do poder do dinheiro.

não sou escritor mas sou um aventureiro;que adora desafio... estou analisando proposta de onde publica a minha primeira web-serie...
gosto de temas fortes,que levam as pessoas a pensarem.

"Blog de humor e fantasia, criado para fins de entretenimento, apenas. As informações e opiniões aqui contidas podem não corresponder à realidade. Se você se ofendeu com alguma postagem, certamente a mesma se trata uma ficção que deve ser imediatamente desconsiderada, e não levada a sério"
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