Chantagem
EPISÓDIO 4
Daniel Caleb está com os olhos atentos na tela do computador quando alguém o interrompe.
__O que você quer, Alma Penada? –Perguntou ele desligando o monitor. Carla ficou tão sem graça que até desistiu de falar o que queria.
__Deixa pra lá. –Ela saiu do escritório e ele ligou o monitor voltando a examinar o material pornográfico virtual. Ele via aquilo com uma certa distância, parecia um cientista examinando o corpo de um anfíbio cobaia. A única diferença era a coçadinha carinhosa que Daniel proporcionava ao seu ursinho que deixava de hibernar lentamente.
__Hoje, eu e a Rosa Solitária iremos trocar Orkut. –Disse Alessandro animado.
__Odeio essas coisas de internet. Comigo é na xinxa mesmo. Vai que essa mulher é uma vagaba? –Disse Carlos.
__E daí? Vagaba também faz sexo. E muito –Disse Simone. Alessandro irritou-se com o comentário.
__Será que vocês só pensam em sexo? Já passou pela cabeça de vocês que eu estou querendo amar e ser amado?!
__Muito gay... –Advertiu Carlos.
__Tá bom, machão. –Reclamou Alessandro. –Uma vida solitária é terrível.
__E esta Rosa Solitária também deve ser. –Disse Babi num trocadilho maldoso.
__O Alessandro está certo. Esse negócio de só sexo não está com nada. Ele já tem seus 30 anos, já está na hora de casar, ter alguém para amar. Isso não é coisa gay. –Defendeu Vânia. Alessandro agradeceu.
__Cliente. –Disse Simone para todos se ajeitarem, até verem que se tratava de Amoris e todos voltaram ao seu desleixo.
__Senti uma decepção no ar. –Disse Amoris.
__Não, é que a gente pensou que era cliente. –Explicou Babi.
__Nossa, não sabia que eu estava excluída de ser cliente. Pero... vocês estão certos. Não vim comprar nada. O salão está vazio e vi que aqui também, então pensei em ficar um pouco. Cadê Hitler? –Perguntou Amoris tomando a mesma posição desleixada.
__Aqui, infelizmente. –Disse Carlos, e proseguiu com o assunto interior. –Estávamos falando sobre o Alessandro que encontrou uma namorada na internet e ainda não viu a foto dela. Você acha que tem condições de essa mulher se bonita?
__Se for mulher, já é lucro. –Todos riram.
__Pior que é. Ela usa um Nick bem brega. Rosa Solitária. –Disse Babi esperando uma gargalhada atroz e maléfica de Amoris, que a decepcionou com um meio sorriso sem graça e amarelo.
__Sério? Que coisa. –Disse Amoris, atordoada.
Daniel apareceu dizendo que iria almoçar. Carla, que estava no banheiro, saiu ao ouvi-lo para ver se conseguia um convite.
__Já vai almoçar Daniel? –Perguntou ela.
__Não, eu estou indo bater com a cara num poste. Mas volto daqui a duas horas. –E saiu.
__Por que você namora com ele? –Perguntou Amoris, ainda tensa com seu probleminha.
__Na verdade, foi porque eu não a quis. –Brincou Carlos, com um fundo de verdade.
__Não é da conta de vocês. –Disse Carla grosseiramente, mas sem intenção. Saiu da presença deles e foi trancar-se no escritório do namorado ingrato. Sentou-se na cadeira giratória tentando diminuir sua raiva. Os demais foram almoçar, mas ela continuou lá. Preferiu conferir seu Orkut. Ao digitar o “O” inicial no navegador, apareceu na lista de sites visitados “ogostosao.com”, ela clicou e rapidamente, como se estivesse navegando off, apareceu fotos de homens pelados.
Durante o almoço, Amoris não conseguia parar de pensar que Alessandro era o Solteiro Maduro. Nada que ela pudesse dizer "que horror", mas o caso é que os dois se conheciam e o que era pior, ele a conhecia de verdade. Sem contar que provavelmente não iria rolar nada, pois eram amigos e nunca tinham sentido nenhuma química. Mas como poderiam ter tanta química virtualmente? Pensou e chegou a uma conclusão, agiria como uma adulta e abriria o jogo no momento certo.
Por hora, o centro das atenções estava sendo Babi graças a Simone e sua terrível indiscrição.
__E o Bolinho? –Perguntou Simone.
__Ah, não sei. A gente ficou ontem. Talvez nos vejamos hoje. –Disse Babi.
__Estamos evoluindo. –Brincou Vânia.
Todos já haviam voltado ao trabalho, quando Daniel enfim chegou. Mirou todos com seu desprezo peculiar e foi para o seu escritório. Ao ver Carla, ele se irritou.
__Isso não está dando certo... –Disse ele contendo-se de raiva, mandando-a levantar da cadeira. Ela o olhou com certa soberba, a qual ele não percebeu. –É melhor terminarmos.
__E se eu não quiser terminar? –Pirraçou. Ele perdeu o controle.
__Saia do meu escritório agora e vá vender, antes que eu lhe mande pastar também do seu emprego, porque da minha vida já está fora.
__Cale a boca! –Gritou Carla. Os funcionários escutaram e ficaram se olhando.
__Essa eu não perco nem que meu marido arranje emprego. –Disse Simone correndo para tentar escutar alguma coisa.
Daniel ia falar algo, quando Carla abaixou o tom de voz e começou a chantageá-lo.
__Eu sei que você é bissexual. –Daniel ficou pálido. –Eu vi os sites gays. Eu vi os sites bizarros. Você é um doente.
__Saia daqui. –Mandou Daniel contido para que os outros não escutassem.
__Não. Você vai se levantar desta cadeira e vai me nomear gerente desta loja...
__Cale a boca.
__Cale você. Ou me nomeia agora a gerente. Ou todos saberão o que você faz neste computador. E aí, eu quero vê quem vai lhe respeitar. –Ultimatou Carla.
Daniel saiu do escritório, os funcionários correram para não serem vistos.
__De hoje por diante, a Carla é a gerente desta loja. –Disse Daniel.
__Mas eu sou o gerente! –Revidou Alessandro sem entender.
__Quem era não é mais. –Uma cliente estava entrando. –Já sabem a quem devem prestar contas na minha ausência. –E voltou para o seu escritório bufando, enquanto Carla dava um longo sorriso aos seus colegas.
O expediente acabou e o assunto da saída não poderia ter sido outro.
__Colocar a Carla em meu lugar é um absurdo. Eu sou um bom gerente, não sou? –Perguntou Alessandro angustiado. O episódio excepcional tinha levado todos a dar uma passadinha na lanchonete para consolar o ex-gerente.
__O que deve ter acontecido é que a Carla deve ter dito a ele que só continuaria sua “amante”... – Vânia fez as aspas com as mãos – Se ele a promovesse.
__Isso é revoltante! –Disse Alessandro cerrando o punho na mesa.
__Gente, eu tenho que ir, eu tenho marido e filhos. –Disse Simone, saindo. Carlos, Babi e Vânia foram se despedindo e se retirando a única que ficou foi Amoris.
__Que bom que você ficou para me consolar mais um pouco - Alessandro pôs suas mãos sobre as de Amoris, para agradecê-la. - Eu estou com vontade de matar aquele Hitler de uma figa...
__Pare de se lamentar. Eu não fiquei aqui para consolá-lo, fiquei apenas para te dizer que... –Amoris parou. Alessandro ficou esperando. –Eu sou a Rosa Solitária.
Carlos entrou no elevador para chegar ao seu andar, e uma loira de cabelos ondulados entrou também. Só disseram um tímido oi, enquanto o elevador subia feito um jegue na seca do sertão. Ele lembrou-se da cocaína em que ainda não havia consumido. A cada dia pensava mais nisso e não sabia quanto tempo iria resistir. Pensara mil vezes em jogar fora, mas não encontrava força suficiente para esse nobre feito. Passou a mão agoniadamente no nariz como se pudesse sentir o cheiro da farinha tóxica.
__Bah, estás passando bem?
__Tô. –Respondeu Carlos tendo uma ideia e uma vontade. –Você é desse prédio?
__Sim, me mudei pra cá tem uma semana. –Carlos riu sedutoramente.
__Você é gaúcha, né? –Ela afirmou com a cabeça. –Que pergunta besta. Mas é verdade que as gaúchas gostam de um negão? –Perguntou, dessa vez com voz sedutora e um olhar 43 que...
Quando o elevador abriu a porta no andar de Carlos, os dois estavam se beijando. Ele a puxou pelo braço e entraram no apartamento dele.
__Bah, trilegal teu apê. –Disse ela, que não conseguiu ver mais. Ele a empurrou para cima do sofá, onde começou a beijá-la por completo. –Guri, tu não terias uma cama? –Perguntou ela rindo, pois a posição estava meio infeliz.
__Claro que eu tenho, guria. Vem. –Disse, pegando-a nos braços.
__Tu dá conta? –Perguntou, como uma gata no cio, após ser jogada na cama.
__Pode ter certeza que sim.
Ufa! Black and White estavam sobre a cama relaxados. Carlos sentiu-se ainda mais aliviado, porque a vontade agonizante de cheirar havia passado.
__Bah, tu és muito bom. –Disse a gaúcha, que pegou sua bolsa no chão, encostou-se na cabeceira da cama, afastou o enfeite sobre o criado mudo e sobre ele despejou um pouco do pó que levava consigo. Carlos só veio perceber quando ela sugou o primeiro carrerão. –Tu quer? Deixei pra ti. –Ofereceu ela dando o sugador. Carlos sentiu-se meio ridículo, porque o plano não dera certo. Pegou o sugador e cheirou a cocaína dela.
A cara de decepcionado estava ainda pior, depois de saber de toda a história envolvendo a Rosa Solitária.
__Não conta a ninguém, por favor, ta? –Pediu Amoris.
__Pode deixar. Logo eu vi que estava bom demais pra ser verdade. –Amoris sentiu uma rejeição nesta frase, mas não quis fazer caso.
__Também não é assim. E aquela mulher que deu o número dela pra você no cinema?
__A Telefónica informa que esse número não existe. –Disse Alessandro imitando a voz da mulher.
__Imagine se a gente fosse descobrir quando trocássemos Orkut?
__É. –Disse desanimadamente e sem motivo. –Eu gostava da Rosa Solitária. –Revelou num risinho decepcionado. Amoris sentiu que era sua chance. Apesar do medo e das conseqüências que poderia sofrer com o que fosse falar, ela resolveu arriscar.
__Eu sou a Rosa Solitária. E eu também gostei do Solteiro Maduro. Talvez, quem sabe...?
__Eu e você? –Perguntou ele, se tocando. Ela riu para que sua revelação diminuísse a veracidade do que sentia, deixou meio que na brincadeira para não se machucar muito, se a resposta fosse não. Então ela gargalhou.
__Yes, como não? Nós dois namorando. Pode dar certo, chegaremos até a nos casar.
__Sim, e o Caleb será o padre.
__Não esquenta. E lembre-se, não vamos contar isso a ninguém.
__Senão, eles vão ficar querendo ver coisas onde não existe. Tchau, Amoris.
Alessandro se despediu no mesmo desânimo e foi para casa. Amoris ficou parada vendo ele andar e ficou pensando que era mais azarada do que ele. Por que ele só levou na brincadeira? Se continuasse a pensar sua auto-estima abaixaria até o inferno, então foi para casa angustiada da mesma forma que o Solteiro Maduro, que ela descobrira não ter nada de maduro.
Vânia já tinha terminado um programa, quando seu celular vermelho tocou outra vez. Um homem com a voz rouca marcara de pegá-la frente ao hotel Palace, conforme ela exigiu, era mais seguro. De lá, eles iriam para um motel, acertaram o preço pelo telefone.
Hoje, Vânia estava de Bruxa Fausta. Ela olhou o relógio e ficou aguardando.
Babi e Bolinho estavam dando uma amasso na praça escura da Igreja, local preferido para os casais de namorados. Ela não gostava muito dele, mas gostava da companhia e do fato de ele fazê-la esquecer dos seus fracassos no vestibular. Ficaria nele até meados de marços quando voltaria estudar. Um namoro com data de validade.
Bolinho sabia que era uma relação sem muito futuro, por isso estava mais preocupado com a ralação. E nisso ele era muito avançado.
__Não! –Negava Babi com um leve gemido, sempre quando Bolinho tentava passar a mão em suas nádegas. Era sempre a mesma coisa, ele obedecia por cinco minutos depois, até voltar a descer e ela dizer o duvidoso “não” outra vez. - Já está na hora de ir embora. –Disse ela se levantando.
Os dois foram andando, ao chegarem numa rua mais escura. Ele a pôs contra à parede e o namoro voltou a esquentar. Os movimentos frenéticos não paravam, apesar dos falsos “nãos” dela. Quase meia hora nesse amasso, e Babi foi surpreendida quando ele pegou a sua mão e colocou-a dentro da sua cueca. Antes que Babi conseguisse tirar, ele ejaculou. Ela deu um grito de nojo e tirou sua mão tão rapidamente que bateu no queixo dele. Ela sacudiu a mão tentando tirar o esperma, enquanto ele reclamava do golpe.
__Você está louco? –Brigou ela.
__Foi mal. Mas é que eu tava com muito tesão. –Ela olhou feio para cara dele enquanto limpava a mão na parede.
__Tesão é o murro que eu vou te dar. –Babi cheirou a mão, vermelha de raiva. –Quer saber? – ela encarou a palma da mão, suja de restos de esperma e dos tijolos do muro. Fez questão de esfregar tudo isso na cara de Bolinho, que depois pulou de susto e nojo. –Eu vou embora sozinha. Acabou!
__Oh, Babi! –Chamou ele, limpando o rosto com a blusa. –Peraí, não foi porque eu quis! –Disse ele indo atrás.
__Não me segue não! –E foi embora remungando até chegar em casa. Foi direto para o banheiro, lavou a mão com sabonete, xampú, condicionador, pasta de dente.
Vânia já estava desistindo de esperar, quando o carro chegou. Ela entrou disposta à reclamar sobre a demora com o cliente, pois cobraria pelo tempo esperado, quando ficou pálida ao ver de quem se tratava.
__Uziel?! -Perguntou ela morta de vergonha e sem acreditar.
__Vânia, mas é você? –Perguntou ele com a voz rouca de um resfriado que pegara no final de semana em Campos do Jordão, onde tinha ido com sua esposa. Ela abriu a porta para descer, ele a pegou pelo braço. –Você é garota de programa? –inquiriu, pasmo.
__Você descobriu. Meus parabéns - aplaudiu. - Agora pode me odiar mais do que já odeia. Já pode destruir a minha vida por completo, se quiser.
__Eu não te odeio.
__Não? E por que rompeu o nosso noivado para casar com outra? Que, inclusive, você está planejando trair? Se é que não já traiu! E com uma prostituta! Que decepção, Uziel - jogou nacara, esquecendo-se, por um momento, que ela própria era uma prostituta. - Falando nisto, cadê ela? –Ele abaixou a cabeça.
__Ela anda muito estressada. Nós não estamos tendo uma vida sexual.
__Que ótimo. Agora eu me sinto bem melhor em saber que seu casamento não é perfeito - e riu.
__Eu gosto dela. Só que... –O silêncio reinou. Os dois ficaram calados.
__Se você quiser ficar comigo, eu não cobro. –Disse Vânia engolindo seu orgulho e se humilhando. Ela ainda o amava e apesar da situação constrangedora, aquela era uma boa oportunidade de lembrar os velhos tempos.
__Isso não iria lhe machucar?
Vânia fez-se de forte:
__Eu sou adulta e não uma menina. Sem contar que sou uma prostituta, sei dividir sexo de amor.
__Nossa, é você mesmo? –Ele riu surpreendido.
__Eu já fiz muita coisa para querer passar por santa agora. –Ela o olhou. Ela pegou na perna dele e os dois começaram a se beijar. Foram para o motel. Vânia voltara a sentir aquela sensação de adrenalina que perdera nestes encontros.
Lá, os dois se agarraram, ela estava ao extremo e queria fazer algo inesquecível, o excitou até o último grau e nisso o tiro saiu pela culatra. Ele ejaculou com 10 minutos de preliminares intensas.
__Quero que você seja minha exclusiva. –Disse Uziel se recuperando para o segundo round. Os olhos dela brilharam, mas não sabia se aquilo era bom ou ruim.
A campainha tocou. Daniel abriu a porta soltando seus cachorros.
__Calma. Eu só queria conversar. –Disse Carla.
__Tem um minuto.
__Posso entrar?
__Um minuto passa rápido.
__Eu queria saber se a gente terminou de verdade.
__Você realmente é loira natural. Você me chantageou e ainda acha que vamos continuar? Não, obrigado. Já lhe substitui. –Carla se exaltou.
__Como você é rápido, já arranjou uma namorada?
__Sim. A minha mão direita. –Disse ele a calando. – Ela é muito mais fiel e não me chatangia. Eu não preciso mais de você para ejacular. Era só para isso que você me servia. Agora vá embora, pois você é a gerente e tem que abrir a loja. –Fechou a porta na cara dela e voltou para o computador.
__Gentem... –Disse Carla aos funcionários, bem perua, na segunda-feira. –Como hoje é o meu primeiro dia como gerente, eu quero registrar esse momento. - Ninguém se animou. Mesmo assim, na falsidade, fizeram a pose para tirar a foto. E quem a tirou foi ninguém mais e ninguém menos do que Daniel, que fora chantageado mais cedo para tirar a bendita fotografia.
Os funcionários se juntaram, um abraçado ao outro, corpos e mais corpos, pelo visor da câmera, Daniel imaginou todos aqueles num surubão, via todos se beijando, se agarrando, se tocando, depois pegando fogo, crepitando lentamente, morrendo secos e torrados, para o seu prazer.
EPISÓDIO 4
Daniel Caleb está com os olhos atentos na tela do computador quando alguém o interrompe.
__O que você quer, Alma Penada? –Perguntou ele desligando o monitor. Carla ficou tão sem graça que até desistiu de falar o que queria.
__Deixa pra lá. –Ela saiu do escritório e ele ligou o monitor voltando a examinar o material pornográfico virtual. Ele via aquilo com uma certa distância, parecia um cientista examinando o corpo de um anfíbio cobaia. A única diferença era a coçadinha carinhosa que Daniel proporcionava ao seu ursinho que deixava de hibernar lentamente.
__Hoje, eu e a Rosa Solitária iremos trocar Orkut. –Disse Alessandro animado.
__Odeio essas coisas de internet. Comigo é na xinxa mesmo. Vai que essa mulher é uma vagaba? –Disse Carlos.
__E daí? Vagaba também faz sexo. E muito –Disse Simone. Alessandro irritou-se com o comentário.
__Será que vocês só pensam em sexo? Já passou pela cabeça de vocês que eu estou querendo amar e ser amado?!
__Muito gay... –Advertiu Carlos.
__Tá bom, machão. –Reclamou Alessandro. –Uma vida solitária é terrível.
__E esta Rosa Solitária também deve ser. –Disse Babi num trocadilho maldoso.
__O Alessandro está certo. Esse negócio de só sexo não está com nada. Ele já tem seus 30 anos, já está na hora de casar, ter alguém para amar. Isso não é coisa gay. –Defendeu Vânia. Alessandro agradeceu.
__Cliente. –Disse Simone para todos se ajeitarem, até verem que se tratava de Amoris e todos voltaram ao seu desleixo.
__Senti uma decepção no ar. –Disse Amoris.
__Não, é que a gente pensou que era cliente. –Explicou Babi.
__Nossa, não sabia que eu estava excluída de ser cliente. Pero... vocês estão certos. Não vim comprar nada. O salão está vazio e vi que aqui também, então pensei em ficar um pouco. Cadê Hitler? –Perguntou Amoris tomando a mesma posição desleixada.
__Aqui, infelizmente. –Disse Carlos, e proseguiu com o assunto interior. –Estávamos falando sobre o Alessandro que encontrou uma namorada na internet e ainda não viu a foto dela. Você acha que tem condições de essa mulher se bonita?
__Se for mulher, já é lucro. –Todos riram.
__Pior que é. Ela usa um Nick bem brega. Rosa Solitária. –Disse Babi esperando uma gargalhada atroz e maléfica de Amoris, que a decepcionou com um meio sorriso sem graça e amarelo.
__Sério? Que coisa. –Disse Amoris, atordoada.
Daniel apareceu dizendo que iria almoçar. Carla, que estava no banheiro, saiu ao ouvi-lo para ver se conseguia um convite.
__Já vai almoçar Daniel? –Perguntou ela.
__Não, eu estou indo bater com a cara num poste. Mas volto daqui a duas horas. –E saiu.
__Por que você namora com ele? –Perguntou Amoris, ainda tensa com seu probleminha.
__Na verdade, foi porque eu não a quis. –Brincou Carlos, com um fundo de verdade.
__Não é da conta de vocês. –Disse Carla grosseiramente, mas sem intenção. Saiu da presença deles e foi trancar-se no escritório do namorado ingrato. Sentou-se na cadeira giratória tentando diminuir sua raiva. Os demais foram almoçar, mas ela continuou lá. Preferiu conferir seu Orkut. Ao digitar o “O” inicial no navegador, apareceu na lista de sites visitados “ogostosao.com”, ela clicou e rapidamente, como se estivesse navegando off, apareceu fotos de homens pelados.
Durante o almoço, Amoris não conseguia parar de pensar que Alessandro era o Solteiro Maduro. Nada que ela pudesse dizer "que horror", mas o caso é que os dois se conheciam e o que era pior, ele a conhecia de verdade. Sem contar que provavelmente não iria rolar nada, pois eram amigos e nunca tinham sentido nenhuma química. Mas como poderiam ter tanta química virtualmente? Pensou e chegou a uma conclusão, agiria como uma adulta e abriria o jogo no momento certo.
Por hora, o centro das atenções estava sendo Babi graças a Simone e sua terrível indiscrição.
__E o Bolinho? –Perguntou Simone.
__Ah, não sei. A gente ficou ontem. Talvez nos vejamos hoje. –Disse Babi.
__Estamos evoluindo. –Brincou Vânia.
Todos já haviam voltado ao trabalho, quando Daniel enfim chegou. Mirou todos com seu desprezo peculiar e foi para o seu escritório. Ao ver Carla, ele se irritou.
__Isso não está dando certo... –Disse ele contendo-se de raiva, mandando-a levantar da cadeira. Ela o olhou com certa soberba, a qual ele não percebeu. –É melhor terminarmos.
__E se eu não quiser terminar? –Pirraçou. Ele perdeu o controle.
__Saia do meu escritório agora e vá vender, antes que eu lhe mande pastar também do seu emprego, porque da minha vida já está fora.
__Cale a boca! –Gritou Carla. Os funcionários escutaram e ficaram se olhando.
__Essa eu não perco nem que meu marido arranje emprego. –Disse Simone correndo para tentar escutar alguma coisa.
Daniel ia falar algo, quando Carla abaixou o tom de voz e começou a chantageá-lo.
__Eu sei que você é bissexual. –Daniel ficou pálido. –Eu vi os sites gays. Eu vi os sites bizarros. Você é um doente.
__Saia daqui. –Mandou Daniel contido para que os outros não escutassem.
__Não. Você vai se levantar desta cadeira e vai me nomear gerente desta loja...
__Cale a boca.
__Cale você. Ou me nomeia agora a gerente. Ou todos saberão o que você faz neste computador. E aí, eu quero vê quem vai lhe respeitar. –Ultimatou Carla.
Daniel saiu do escritório, os funcionários correram para não serem vistos.
__De hoje por diante, a Carla é a gerente desta loja. –Disse Daniel.
__Mas eu sou o gerente! –Revidou Alessandro sem entender.
__Quem era não é mais. –Uma cliente estava entrando. –Já sabem a quem devem prestar contas na minha ausência. –E voltou para o seu escritório bufando, enquanto Carla dava um longo sorriso aos seus colegas.
O expediente acabou e o assunto da saída não poderia ter sido outro.
__Colocar a Carla em meu lugar é um absurdo. Eu sou um bom gerente, não sou? –Perguntou Alessandro angustiado. O episódio excepcional tinha levado todos a dar uma passadinha na lanchonete para consolar o ex-gerente.
__O que deve ter acontecido é que a Carla deve ter dito a ele que só continuaria sua “amante”... – Vânia fez as aspas com as mãos – Se ele a promovesse.
__Isso é revoltante! –Disse Alessandro cerrando o punho na mesa.
__Gente, eu tenho que ir, eu tenho marido e filhos. –Disse Simone, saindo. Carlos, Babi e Vânia foram se despedindo e se retirando a única que ficou foi Amoris.
__Que bom que você ficou para me consolar mais um pouco - Alessandro pôs suas mãos sobre as de Amoris, para agradecê-la. - Eu estou com vontade de matar aquele Hitler de uma figa...
__Pare de se lamentar. Eu não fiquei aqui para consolá-lo, fiquei apenas para te dizer que... –Amoris parou. Alessandro ficou esperando. –Eu sou a Rosa Solitária.
Carlos entrou no elevador para chegar ao seu andar, e uma loira de cabelos ondulados entrou também. Só disseram um tímido oi, enquanto o elevador subia feito um jegue na seca do sertão. Ele lembrou-se da cocaína em que ainda não havia consumido. A cada dia pensava mais nisso e não sabia quanto tempo iria resistir. Pensara mil vezes em jogar fora, mas não encontrava força suficiente para esse nobre feito. Passou a mão agoniadamente no nariz como se pudesse sentir o cheiro da farinha tóxica.
__Bah, estás passando bem?
__Tô. –Respondeu Carlos tendo uma ideia e uma vontade. –Você é desse prédio?
__Sim, me mudei pra cá tem uma semana. –Carlos riu sedutoramente.
__Você é gaúcha, né? –Ela afirmou com a cabeça. –Que pergunta besta. Mas é verdade que as gaúchas gostam de um negão? –Perguntou, dessa vez com voz sedutora e um olhar 43 que...
Quando o elevador abriu a porta no andar de Carlos, os dois estavam se beijando. Ele a puxou pelo braço e entraram no apartamento dele.
__Bah, trilegal teu apê. –Disse ela, que não conseguiu ver mais. Ele a empurrou para cima do sofá, onde começou a beijá-la por completo. –Guri, tu não terias uma cama? –Perguntou ela rindo, pois a posição estava meio infeliz.
__Claro que eu tenho, guria. Vem. –Disse, pegando-a nos braços.
__Tu dá conta? –Perguntou, como uma gata no cio, após ser jogada na cama.
__Pode ter certeza que sim.
Ufa! Black and White estavam sobre a cama relaxados. Carlos sentiu-se ainda mais aliviado, porque a vontade agonizante de cheirar havia passado.
__Bah, tu és muito bom. –Disse a gaúcha, que pegou sua bolsa no chão, encostou-se na cabeceira da cama, afastou o enfeite sobre o criado mudo e sobre ele despejou um pouco do pó que levava consigo. Carlos só veio perceber quando ela sugou o primeiro carrerão. –Tu quer? Deixei pra ti. –Ofereceu ela dando o sugador. Carlos sentiu-se meio ridículo, porque o plano não dera certo. Pegou o sugador e cheirou a cocaína dela.
A cara de decepcionado estava ainda pior, depois de saber de toda a história envolvendo a Rosa Solitária.
__Não conta a ninguém, por favor, ta? –Pediu Amoris.
__Pode deixar. Logo eu vi que estava bom demais pra ser verdade. –Amoris sentiu uma rejeição nesta frase, mas não quis fazer caso.
__Também não é assim. E aquela mulher que deu o número dela pra você no cinema?
__A Telefónica informa que esse número não existe. –Disse Alessandro imitando a voz da mulher.
__Imagine se a gente fosse descobrir quando trocássemos Orkut?
__É. –Disse desanimadamente e sem motivo. –Eu gostava da Rosa Solitária. –Revelou num risinho decepcionado. Amoris sentiu que era sua chance. Apesar do medo e das conseqüências que poderia sofrer com o que fosse falar, ela resolveu arriscar.
__Eu sou a Rosa Solitária. E eu também gostei do Solteiro Maduro. Talvez, quem sabe...?
__Eu e você? –Perguntou ele, se tocando. Ela riu para que sua revelação diminuísse a veracidade do que sentia, deixou meio que na brincadeira para não se machucar muito, se a resposta fosse não. Então ela gargalhou.
__Yes, como não? Nós dois namorando. Pode dar certo, chegaremos até a nos casar.
__Sim, e o Caleb será o padre.
__Não esquenta. E lembre-se, não vamos contar isso a ninguém.
__Senão, eles vão ficar querendo ver coisas onde não existe. Tchau, Amoris.
Alessandro se despediu no mesmo desânimo e foi para casa. Amoris ficou parada vendo ele andar e ficou pensando que era mais azarada do que ele. Por que ele só levou na brincadeira? Se continuasse a pensar sua auto-estima abaixaria até o inferno, então foi para casa angustiada da mesma forma que o Solteiro Maduro, que ela descobrira não ter nada de maduro.
Vânia já tinha terminado um programa, quando seu celular vermelho tocou outra vez. Um homem com a voz rouca marcara de pegá-la frente ao hotel Palace, conforme ela exigiu, era mais seguro. De lá, eles iriam para um motel, acertaram o preço pelo telefone.
Hoje, Vânia estava de Bruxa Fausta. Ela olhou o relógio e ficou aguardando.
Babi e Bolinho estavam dando uma amasso na praça escura da Igreja, local preferido para os casais de namorados. Ela não gostava muito dele, mas gostava da companhia e do fato de ele fazê-la esquecer dos seus fracassos no vestibular. Ficaria nele até meados de marços quando voltaria estudar. Um namoro com data de validade.
Bolinho sabia que era uma relação sem muito futuro, por isso estava mais preocupado com a ralação. E nisso ele era muito avançado.
__Não! –Negava Babi com um leve gemido, sempre quando Bolinho tentava passar a mão em suas nádegas. Era sempre a mesma coisa, ele obedecia por cinco minutos depois, até voltar a descer e ela dizer o duvidoso “não” outra vez. - Já está na hora de ir embora. –Disse ela se levantando.
Os dois foram andando, ao chegarem numa rua mais escura. Ele a pôs contra à parede e o namoro voltou a esquentar. Os movimentos frenéticos não paravam, apesar dos falsos “nãos” dela. Quase meia hora nesse amasso, e Babi foi surpreendida quando ele pegou a sua mão e colocou-a dentro da sua cueca. Antes que Babi conseguisse tirar, ele ejaculou. Ela deu um grito de nojo e tirou sua mão tão rapidamente que bateu no queixo dele. Ela sacudiu a mão tentando tirar o esperma, enquanto ele reclamava do golpe.
__Você está louco? –Brigou ela.
__Foi mal. Mas é que eu tava com muito tesão. –Ela olhou feio para cara dele enquanto limpava a mão na parede.
__Tesão é o murro que eu vou te dar. –Babi cheirou a mão, vermelha de raiva. –Quer saber? – ela encarou a palma da mão, suja de restos de esperma e dos tijolos do muro. Fez questão de esfregar tudo isso na cara de Bolinho, que depois pulou de susto e nojo. –Eu vou embora sozinha. Acabou!
__Oh, Babi! –Chamou ele, limpando o rosto com a blusa. –Peraí, não foi porque eu quis! –Disse ele indo atrás.
__Não me segue não! –E foi embora remungando até chegar em casa. Foi direto para o banheiro, lavou a mão com sabonete, xampú, condicionador, pasta de dente.
Vânia já estava desistindo de esperar, quando o carro chegou. Ela entrou disposta à reclamar sobre a demora com o cliente, pois cobraria pelo tempo esperado, quando ficou pálida ao ver de quem se tratava.
__Uziel?! -Perguntou ela morta de vergonha e sem acreditar.
__Vânia, mas é você? –Perguntou ele com a voz rouca de um resfriado que pegara no final de semana em Campos do Jordão, onde tinha ido com sua esposa. Ela abriu a porta para descer, ele a pegou pelo braço. –Você é garota de programa? –inquiriu, pasmo.
__Você descobriu. Meus parabéns - aplaudiu. - Agora pode me odiar mais do que já odeia. Já pode destruir a minha vida por completo, se quiser.
__Eu não te odeio.
__Não? E por que rompeu o nosso noivado para casar com outra? Que, inclusive, você está planejando trair? Se é que não já traiu! E com uma prostituta! Que decepção, Uziel - jogou nacara, esquecendo-se, por um momento, que ela própria era uma prostituta. - Falando nisto, cadê ela? –Ele abaixou a cabeça.
__Ela anda muito estressada. Nós não estamos tendo uma vida sexual.
__Que ótimo. Agora eu me sinto bem melhor em saber que seu casamento não é perfeito - e riu.
__Eu gosto dela. Só que... –O silêncio reinou. Os dois ficaram calados.
__Se você quiser ficar comigo, eu não cobro. –Disse Vânia engolindo seu orgulho e se humilhando. Ela ainda o amava e apesar da situação constrangedora, aquela era uma boa oportunidade de lembrar os velhos tempos.
__Isso não iria lhe machucar?
Vânia fez-se de forte:
__Eu sou adulta e não uma menina. Sem contar que sou uma prostituta, sei dividir sexo de amor.
__Nossa, é você mesmo? –Ele riu surpreendido.
__Eu já fiz muita coisa para querer passar por santa agora. –Ela o olhou. Ela pegou na perna dele e os dois começaram a se beijar. Foram para o motel. Vânia voltara a sentir aquela sensação de adrenalina que perdera nestes encontros.
Lá, os dois se agarraram, ela estava ao extremo e queria fazer algo inesquecível, o excitou até o último grau e nisso o tiro saiu pela culatra. Ele ejaculou com 10 minutos de preliminares intensas.
__Quero que você seja minha exclusiva. –Disse Uziel se recuperando para o segundo round. Os olhos dela brilharam, mas não sabia se aquilo era bom ou ruim.
A campainha tocou. Daniel abriu a porta soltando seus cachorros.
__Calma. Eu só queria conversar. –Disse Carla.
__Tem um minuto.
__Posso entrar?
__Um minuto passa rápido.
__Eu queria saber se a gente terminou de verdade.
__Você realmente é loira natural. Você me chantageou e ainda acha que vamos continuar? Não, obrigado. Já lhe substitui. –Carla se exaltou.
__Como você é rápido, já arranjou uma namorada?
__Sim. A minha mão direita. –Disse ele a calando. – Ela é muito mais fiel e não me chatangia. Eu não preciso mais de você para ejacular. Era só para isso que você me servia. Agora vá embora, pois você é a gerente e tem que abrir a loja. –Fechou a porta na cara dela e voltou para o computador.
__Gentem... –Disse Carla aos funcionários, bem perua, na segunda-feira. –Como hoje é o meu primeiro dia como gerente, eu quero registrar esse momento. - Ninguém se animou. Mesmo assim, na falsidade, fizeram a pose para tirar a foto. E quem a tirou foi ninguém mais e ninguém menos do que Daniel, que fora chantageado mais cedo para tirar a bendita fotografia.
Os funcionários se juntaram, um abraçado ao outro, corpos e mais corpos, pelo visor da câmera, Daniel imaginou todos aqueles num surubão, via todos se beijando, se agarrando, se tocando, depois pegando fogo, crepitando lentamente, morrendo secos e torrados, para o seu prazer.
CONTINUA
NA SEMANA QUE VEM
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