quarta-feira, outubro 24, 2007

Donas de Casa Desesperadas

Depois que Sob Nova Direção foi covardemente descartado das noites de domingo, à troco de nada (era para ceder espaço para Toma Lá Dá Cá, que foi transferido para as terças, levando A Diarista na enxurrada) era mesmo necessário um novo seriado que cobrisse o espaço nos domingos - mesmo que não fosse da Globo.

Quando a Rede TV começou a exibir Desperate Housewives, eu não me interessei, até porque tenho certa resistência a séries dubladas. Nada muito exagerado, já que eu sou fã de Chaves, e só gosto do seriado dublado. E também, não assistia a essa série porque não sabia se era uma comédia, se era um drama, ou ambos. Porque toda vez que eu zapeava e assistia uns trechos da série, não percebia nada de sitcom nela.

Porém, com Donas de Casa Desesperadas, eu consegui dar uma chance ao seriado, que tem um texto excelente, e logo no primeiro episódio eu já curti. Trata-se da terceira-primeira produção própria da Rede TV - a primeira-primeira foi o humorístico Vila Maluca (uma tosquice inspirada no Chaves), e a segunda foi o seriado Mano a Mano. Tudo o que a Rede TV lançou no ramo da dramaturgia até agora, é chamado de "o primeiro investimento da emissora na área". Com Donas de Casa não é diferente, e quando a Rede TV lançar outra produção própria - se bem que a versão de Desperate Housewives é cheia de "poréns" e a Rede TV não tem muita voz na produção, como tem a Globo em seus seriados -, ela deverá repetir que está fazendo um investimento inédito, de novo.

Claro, Donas de Casa Desesperadas tem os seus defeitos, grandes defeitos, mas primeiramente eu decidi assistir por pena da Rede TV, que investiu milhões no projeto. Investiu milhões mas não teve a dignidade de contratar um elenco completamente brasileiro, o que complica para quem não tem a mesma paciência que eu e que pretende prestigiar a produção. Assistir a um seriado em que atores latinos (sei que os brasileiros também são latinos, mas vocês entenderam) tentam falar português e fracassam miseravelmente, a galinha vai pular nas mãos dos dubladores. É comum as pessoas dizerem que a dublagem de Donas de Casa é horrível, mas não é. Algumas vozes não são adequadas para os atores que serão dublados, e é só. Experimente você dublar um argentino que acha que está falando português.

No mais, o texto é incrível, e a história é boa. Algumas protagonistas são duramente criticadas, e coincidentemente, as de cachê mais caro. Não vou falar muito da história, afinal ainda estou acompanhando pela versão brasileira, mas posso falar das atrizes.

A começar por Sônia Braga (Alice Monteiro), que narra a história com uma voz meio fúnebre, diferente da descontraída narradora da série original (em tempo: baixei um episódio de Desperate Housewives, falarei disso depois). Mas isso é o de menos, até que combina com o seriado, acho que foi isso o que a Sônia pensou. Ruins são as cenas em que ela aparece, ela não se interessou em encarnar o papel de dona de casa.

Outra criticada é Lucélia Santos (que a Veja chamou de Luxélia Xantos), que faz caras e bocas que não têm nada a ver com nada, e acabam tirando a minha atenção. Ela até que está gostosinha no seriado, eu achei interessante isso, mas ela não está nem um pouco boa no papel de Suzana Mayer. De vez em quando ela acerta uma, afinal é uma atriz de nome, mas na maior parte do tempo ela está fazendo uma careta ou falando fofo. Tá bom que é uma comédia, mas não precisa tanto...

Teresa Seiblitz (Lígia Salgado) não está me surpreendendo. Mas eu digo isso porque ela está excelente no papel, o que eu já esperava. Não me lembro de nenhum outro trabalho dela, mas é uma atriz que eu gosto só pelo fato de que ela existe. Aliás, nem sei de onde eu a conheço. Só sei que é uma atriz muito carismática, eu sabia que não ia me decepcionar.

Franciele Freduzeski (Gabriela Soliz) está melhor do que eu imaginava. Além de ser mais gostosa e combinar muito mais no papel que originalmente é da atriz Eva Longoria. Gabriela é uma modelo meio socialite que se casou por acomodação. Teve um caso com o jardineiro interpretado por Iran Malfitano (João, que tem 17 anos, idade que o cara não tinha nem quando fazia Malhação), e ela passa por uma série de problemas, que culminam no atropelamento da sua sogra, que tinha acabado de fotografá-la no flagra com o amante.

Isadora Ribeiro (Vera Marques) interpreta uma divorciada que dá em cima de todos os homens - ou como diriam alguns, uma piriguete mais velha. O papel não poderia ser de ninguém senão da Isadora, que nem é tão boa atriz assim, mas está conduzindo a personagem perfeitamente bem.

Mas a melhor, sem dúvida nenhuma, é Viétia Zangrandi (Elisa Fernandes), que encarnou o papel com uma intensidade incrível. Ela sozinha vale todo o seriado. Acredito até que o papel foi melhor cuidado por ela do que pela atriz original, Márcia Cross. As duas interpretam Elisa (que nos EUA se chama Bree Van de Kamp) de forma diferente, no que diz respeito à personalidade da personagem. Repito que não assisto Desperate Housewives, mas vi trechos no YouTube e baixei o primeiro episódio pra fazer a comparação. Enquanto Bree é mais automática e fria, Elisa é mais profunda, e até mais transparente. Neste domingo, 21 de outubro (reprise), Elisa descobre que o marido foi internado no hospital após um ataque cardíaco após uma quente sessão de sadismo com uma amante. O casamento já estava estremecido, ele já estava dormindo fora de casa, mas Elisa sempre fez de tudo para salvar a relação. E é uma mãe de presença – após o filho atropelar a sogra de Gabriela com um carro que ela não quis que o pai lhe desse, ela conseguiu se livrar do automóvel largando-o, com a chave na ignição, num bairro perigoso de “São Paulo”. Depois disso, o filho (que mal se sensibilizou) passou a fumar maconha e ela deu um jeito de dedurá-lo para o treinador, que o expulsou da natação, a única paixão da vida dele. A história de Elisa é a mais complexa, a mais interessante. E voltando ao hospital, quando o marido acorda da operação, Viétia protagoniza a melhor cena do seriado. Elisa se diz feliz por não ter acontecido nada com o marido, e que vai procurar um advogado para lhe tirar tudo, e mais uma vez, que estava feliz por ele estar vivo para que ela pudesse se vingar.

Donas de Casa Desesperadas não conta com a mesma produção de Desperate Housewives, que claramente é muito melhor nesses termos, mas podemos nos orgulhar de grandes interpretações que muitas vezes ultrapassam as norte-americanas. E que haja uma segunda temporada, com um elenco genuinamente brasileiro, e que por favor mantenha Teresa Seiblitz, Franciele Freduzeski, e, claro, Viétia Zangrandi.


A série é exibida na Rede TV às quartas-feiras após o Superpop, com reprise aos domingos, após o Pânico na TV.

As Donas de Casa Desesperadas (esq. pra dir.): Franciele Freduzeski, Viétia Zangrandi, Sônia Braga, Luxélia Xantos, Teresa Seiblitz, e Isadora Ribeiro.



Abertura de Donas de Casa Desesperadas




Abertura de Desperate Housewives (1ª temporada)

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