sexta-feira, outubro 26, 2007

1 A decadência do movimento teen pop.

A atual onipresença do R&B (do inglês Rhythm and Blues) no cenário musical norte-americano, e mundial por extensão, reflete uma longa trajetória de evolução deste estilo musical, que neste pedaço do século XXI experimenta o seu grande apogeu, graças ao vazio deixado pelo decaimento do movimento teen pop no baricentro da música no início deste século. Antes de adentrar no âmago do R&B, cabe discorrer sobre a crise daquele outro estilo musical, outrora tão rentável para a indústria fonográfica e para os artistas, e que hoje vive praticamente à míngua, com reduzida repercussão, comparada à de poucos anos atrás.

O surto pop (abreviação de popular; neste caso usaremos o termo num sentido estrito, o teen pop, caracterizado por artistas adolescentes padronizados que se lançavam no mercado com promessas de vendas altamente satisfatórias) que infestou as paradas do final no século XX, acabou por revelar que não era eterno e nem tinha condições para sê-lo. Poucos anos depois da virada do milênio, a decadência desse movimento já preocupava a indústria fonográfica, que via os CDs de artistas adolescentes venderem como água na reta final dos anos 90, e que a partir de 2002 já não alcançava as mesmas marcas – que a partir daí se lançaram em queda livre.

Para ser um artista teen pop na América, bastava uma tenra idade no campo da adolescência, uma aparência sedutora e perturbadora, e habilidades na dança. Uma boa voz não era exigência das mais rigorosas, mas quem cantava bem não era descartado, se atendesse àqueles outros critérios; se tudo procedesse, a gravadora assinava o contrato, lançava o disco, e depois bastava torcer para que algum single (música de trabalho) agradasse e grudasse nos ouvidos dos jovens. Os discos eram feitos para vender milhões, o que era francamente possível numa época em que não se baixava música pela internet, como se faz hoje.

Nesta época surgiram artistas bastante conhecidos como Britney Spears, Christina Aguilera, Justin Timberlake e Fergie, sendo que esta última foi a única que não logrou êxito na carreira teen pop – talvez por coincidência, Fergie é a mais velha desse grupo, nascida em 1975 (todos os demais nasceram na década de 1980).

Fergie no grupo Wild Orchird - Talk to me




Britney Spears - Lucky

Legendado



Christina Aguilera - Genie in a botle




Justin Timberlake no grupo N'Sync - I want you back



Conforme esclarecemos, os artistas teen pop não foram feitos para ser eternos – e quando acham que são, sua queda mostra-se ainda mais grave. O fenômeno pop era tal que era feito por adolescentes para adolescentes – mas exigir tal pré-requisito é algo perigoso, afinal a juventude é efêmera e esvai-se quando mais se precisa dela; o tempo passa, os adolescentes crescem, e o senso crítico assume um papel que não exercia na pré-adolescência. E as músicas pop sempre foram famosas por ter prazo curto; geralmente duravam até o próximo disco do artista. Mas quando esse artista não consegue mais cantar o que se passa pela cabeça de alguém que está crescendo e abandonando muitas mentalidades ao mesmo tempo, sua vendagem vai cair, a gravadora vai pressionar, o público vai querer coisas novas, e a crise tende a aumentar quando não se acha uma saída inteligente.

Voltemos aos artistas que mencionamos. Britney Spears foi uma das que não conseguiram manter a estabilidade da sua carreira teen pop. Não só pela sua pífia sagacidade musical, mas também por não suportar os efeitos da sua superexposição na mídia, que lhe abalou o emocional e a tornou protagonista fácil de atos vergonhosos, chegando ao máximo de raspar os cabelos, e ser fotografada em flagrante sem roupa íntima em diversas ocasiões públicas. O fato é que a maior recordista de vendas da música pop hoje amarga uma vida desastrosa, embora seu último single Gimme more tenha alcançado recentemente o terceiro lugar na Billboard, maior parada musical dos EUA – mesmo assim, a crise pessoal de Britney permanece sem expectativas de fim.

Já os demais artistas supracitados viram na decadência do movimento teen pop uma chance de renascimento profissional, sendo hoje grandes nomes do Rhythm and Blues contemporâneo.

É um erro considerar que o R&B veio substituir o surto teen pop; é anterior a ele e coexistiram sem concorrência. Enquanto os artistas pop arrastavam multidões em seus shows, os artistas do R&B contavam com um público fiel e menos exigente – beleza, idade ou coreografias não são fatores determinantes para alguém obter êxito nesse mercado. E é assim desde seus primórdios.


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