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Agora, vamos à coluna!
Durante sua recente passagem pela Colômbia, como vocês bem sabem, o senhor Roberto Bolaños concedeu uma série de entrevistas às principais publicações daquele pais. Todas elas você vem acompanhando aqui no Barril Amarelo do BLOGARITMOX - e ainda vêm mais por aí.
Nesta, em especial, o gênio foi convidado a falar sobre o Chapolin Colorado, estrela da nossa campanha no Twitter: #VOLTACHAPOLIN! (escreva isso para @Danibey e pro @SBTonline, eles nunca disseram que não gostam)
Pois bem, em entrevista ao jornal El Tiempo, Chespirito mais uma vez surpreendeu pela lucidez em plenos 80 anos, de muito trabalho. E, como sempre, ele arrancou elogios do repórter Yamid Aramat (que aliás, fez algumas perguntas que Chespirito já vem respondendo há décadas. Incrível como ele não se importa).
Mas também, Chespirito acaba revelando coisas que você jamais saberia se não estivesse entalado nesse barril de cor gritante! Espere e verá.
Meus parabéns ao El Tiempo, que conseguiu se reunir com o astro sem a presença de sua mulher Florinda Meza (viva!), deixando-o à vontade para falar o que quiser. Também merece congratulações o repórter Yamid Aramat, que apesar de ter feito umas (poucas) perguntas desnecessárias, soube conduzir muito bem a entrevista, e tirou informações preciosas do ídolo mexicano.
Confira parte da sua matéria do El Tiempo, seguida da íntegra da entrevista (precisa dizer que é exclusiva?) com o nosso excelentíssimo ator, humorista, escritor...
"O conhecido Chespirito é muito mais do que isso: é um filósofo. E seus mais populares personagens são heróis humanos, não sobrenaturais, que transmitem toda a filosofía de solidaridade, de convivência, de amor, de humildade e de perdão que inspiram o seu criador. O Chapolin Colorado de Gómez Bolaños - un mexicano de 80 anos, que iniciou sua vida profesional como publicitário, apesar de ter estudado engenharia - é por excelência un mensageiero de bondade, de ajuda e de esperança; auxiliador dos pobres e miseráveis, da gente que parece ter perdido toda a ilusão".
REPÓRTER: Primeiro, uma curiosidade: por quê todos os seus personagens têm um nome que começa com CH: Chapolin, Chaves, Chapatín, Chaparrón, Chómpiras?
CHESPIRITO: Foi por acaso. O primeiro diretor de cinema que levou às telas um argumento meu me bajulou tanto que me disse que eu era una espécie de "pequeno Shakespeare". Desde então, todos os meus companheiros começaram a me chamar 'Shakespirito'. Eu "castelhanizei" e o deixei como Chespirito. E gostei do Ch.
REPÓRTER: E como nasceu o Chapolin Colorado?
CHESPIRITO: Eu era roteirista, escritor, literato, publicitário e tinha em mente um personagem que queria batizar com um nome que se identificasse com México. E me ocorreu "Chapulín".
REPÓRTER: Por que "Chapulin" (Chapolin) se identifica com o México?
CHESPIRITO: Essa palavra é náhuatl, o idioma dos astecas; o nome do grande parque de Chapultepec, na Cidade do México, se origina nos chapulins. "Chapultepec" quer dizer "a colina dos chapulins".
REPÓRTER: O que é um chapulín? (ai que burro, dá zero pra ele!)
CHESPIRITO: Um grilo, um gafanhoto. (clique aqui)
REPÓRTER: E por que o senhor gostou do nome?
CHESPIRITO: Me soava bonito. E era formidável para o personagem que estava idealizando: um herói, com anteninhas como as de los gafanhotos... Eu queria criar um personagem que fosse uma sátira de Superman e de Batman. Pensei primeiro no nombre Chapolin Justiceiro, con uniforme o collant verde. A color igual à dos gafanhotos. Mas o verde e o azul não permitem usar o efeito chroma key da televisão (fundos falsos), então as duas cores foram descartadas. O branco é uma cor muito complicada e o preto é muito fúnebre.
REPÓRTER: E como o senhor finalmente escolheu o vermelho?
CHESPIRITO: Por eliminação: branco, não; preto, não; azul, não; verde, não; então só me restou o vermelho. Não gostei do nombre Chapolin Vermelho. Pensei que se pusesse Colorado não só era mais eufônico, como também que recordava aquele "colorín colorado este conto está acabado". E assim nasceu ol Chapolin Colorado.
REPÓRTER: Por que disse que Chapolin é uma sátira de Batman e Superman?
CHESPIRITO: Porque ele é. Quando me preguntavam que se a ideia era criar un anti-herói, eu dizía que não, que tinha criado um herói; anti-heróis são Superman e todos os demais.
REPÓRTER: Como assím?
CHESPIRITO: Por exemplo: se Superman é capaz de deter um deter, voando no espaço, um asteroide que vai se chocar con a Terra, não é um herói É que quem pode fazer isso pode fazer o que quer, pode enfrentar o problema físico que quiser. Esse não é um herói. É uma caricatura de um ser inexistente e impossível. E o Chapolin, ao contrário, é um ser humano que enfrenta todas as crises, incluindo o mais humano de todos os problemas: o miedo. Chapolin sente un temor enorme, pavor a mil, mas o vence. Derrota o seu miedo e aí se converte em herói! Não é herói aquele que carece de medo.
O herói é quem sente medo, enfrenta-o e io supera. O Chapolin não enfrenta a alguém que quer destruir o mundo, mas sim ajuda a dona de casa, que não tem quem a auxilie, a tirar a sujeira, a limpar a casa. Há ocasiões em que tem que enfrentar poderes muito grandes e o faz, mas nem sempre ganha, porque os seres humanos às vezes ganhan e às vezes perdem.
REPÓRTER: Por que o Chapolin é meio torpe?
CHESPIRITO: Como todos nós. Às vezes torpes, às vezes débeis, às vezes imprudentes.
REPÓRTER: E como surgiu esse "e agora, quem poderá nos defender"?
CHESPIRITO: Isso é o que distingue uns seres humanos de outros; Gandhi enfrentou um império tão poderoso como o britânico, para defender o seu povo; Luther King enfrentou outro poder tão fuerte como o branco, para defender os negros. Lawrence enfrentou os turcos, para defender os árabes. E assim há muitos...
REPÓRTER: Um ou outro acusou o senhor de fazer apologia da violência. É assim? (clique aqui e veja matéria relacionada)
CHESPIRITO: Talvez no Chaves, o Seu Madruga batia no guri mais do que deveria. Mas veja: nã se pode esconder, existe. Inclusive, às vezes a violência resulta benéfica em seus efeitos, quando gera sentimentos de solidaridade com o que sofre, com o débil, com o deficiente, com a vítima. Há violência quando põem uma coroa de espinhos, mas esse ato provoca o amor das pessoas e isso genera sentimentos de solidaridade. Esse tipo de violência, que gera esse tipo de sentimentos, deve-se inserir no teatro, no cinema, em qualquer espetáculo.
REPÓRTER: O senhor, com todo o respeito, já não tem idade para interpretar o Chapolin. Pensa em matar o personagem?
CHESPIRITO: Certa vez pensei em fazê-lo, com um ato heróico, mas tenho uma filha que é professora, psicóloga, e me fez refletir sobre o quão perigoso sería isso.
REPÓRTER: O Chapolin seguirá vivendo eternamente?
CHESPIRITO: Sim. É muito melhor assim.
REPÓRTER: De onde provem a sua genialidade?
CHESPIRITO: Edison disse que a genialidade procede em 1% de inspiração e em 99% de transpiração; quer dizer do trabalho, de escrever.
REPÓRTER: Colômbia e México tem enfrentado problemas semelhantes com o l narcotráfico. Não haveria um 'Chapolin' que ajude a combater a droga?
CHESPIRITO: Sim. E agora, quem poderá nos defender? São todos os norte-americanos os que poderão fazê-lo, se deixarem de consumir.
REPÓRTER: O senhor aprecia a a proposta de descriminalizar a droga que recentemente fizeram os ex-presidentes Gaviria, da Colombia; Zedillo, do México, e Fernando Henrique Cardoso, do Brasil?
CHESPIRITO: Pode ser: se reduziria o número de assassinatos, porque a guerra entre eles é a mais cruel. Mas tem o problema de que poderia facilitar e até promover o consumo. Hoje, existem muitas drogas novas que estão substituindo a cocaína e, desgraçadamente, um dos laboratórios de proba é o esporte; quase todos os esportistas usam anabolizantes. É difícil encontrar um grande campeão que não se tenha fortalecido de alguma manera com algo similar.
REPÓRTER: Apesar dos constantes confrontos entre EUA e México, por que nenhum personagem seu enfrentou o tema?
CHESPIRITO: O Chapolin nunca enfrentou estrangeiros; tampouco os vilões eram de outra raça, religião ou sexualidade; nunca satirizou o homossexualismo ou o bissexualismo. Evito sempre 'ismos' como esses ou o fanatismo. A mí ahora me molesta, soberanamente, ver el arrebatamento no futebol, que foi minha grande diversão. O futebol hoje não é o jogo de bola que era antes; agora são gritos e choros, insultos e violência. Isso é estúpido. Viu como despedaçaram Barcelona depois da vitoria sobre Manchester? Não acabaram com o centro de Santiago do Chile quando golearam a Bolivia? Todo fanatismo é pernicioso, é perigoso, é danoso. Fanatismos inconcevíveis como o religioso ou antirreligioso. Eu sou católico, estudei con os maristas e a instrução me pareceu excelente, mas o medo do inferno que nos inculcam causa dano; a mim causou. Não é bo, buscar a Deus por medo do fogo e do sofrimiento eterno. Isso é tremendo.
REPÓRTER: Lembra-se de como o ameaçavam com o inferno?
CHESPIRITO: Quando saía das confissões ou algo assim, me proibiam até de olhar uma mulher. Eu saía da igreja, vinha una muchacha de corpo bonito e se eu continuava vendo, era pecado. Pouco a pouco, fui dando conta de que isso não podia ser assim.
REPÓRTER: O Chapolin nunca odiou?
CHESPIRITO: Não. Nem ódio, nem vingança, nem rancor. Uma vez me chamaron para hacer a adaptação de um filme. O argumento era o menino que vê matarem seu pai e jura vingança. E a historia ia até quando o menino, já adulto, consdeguia. Eu disse ao produtor que aceitava com uma condição: que no final houvesse perdão em vez de vingança. Me disseram que estava louco. Então, rejeitei. Falou-se muito sobre minha atitude. Pouco depois, o diretor me chamou e se fez o filme como eu havia pedido. Havia crueldade, mas no final perdão. O nobre, a parte boa, não é a vingança; são a reflexão e o perdão. Esse filme foi um sucesso incrível.
REPÓRTER: O senhor diria que suas obras, mais que scripts, são pequenos tratados filosóficos?
CHESPIRITO: Sim. E não é tão complicado. Simplemente, não ir ao lado extremo. É muito fácil explorar a dor, a angústia; o fazem o periodismo escrito, o radiofônico, o televisivo. As notícias truculentas são as que mais vendem. Isso explica a violência das novelas e seus excessos de prantos e de pornografía. Volto ao caso do futebol, porque se deixa contaminar dessa loucura da violencia. Estou renunciando ao futebol. Não voltarei. Só verei os resultados, pra saber quem ganhou.
REPÓRTER: E por que a renuncia?
CHESPIRITO: Pela violencia que há, que encerra, que reflete e que, desgraçadamente, está ensinando a todas as crianças do mundo. Não conheço a um só jogador profissional ou interessado que não seja trapaceiro, mentiroso e farsante. Não existe um; todos são.
REPÓRTER: Trapaceiros?
CHESPIRITO: Caem no chão como se tivessem sido assassinados.
REPÓRTER: Mentirosos?
CHESPIRITO: Enganam o árbitro.
REPÓRTER: Farsantes?
CHESPIRITO: Fingem lesões, simulam dor. Eu fui jogador e tenho muitos amigos jogadores e todos acabaram por me dar razão: não há quem não finja uma falta dol rival, não puxe a camiseta, não empurre, não dê uma cotovelada, etc. Tem até uma piada: O técnico disse ao jogador: "Use os braços para os golpes". E o jogador responde: "Cómo? Para isso tem as pernas!"
REPÓRTER: O senhor torce para que time?
CHESPIRITO: Pro América, do Distrito Federal.
REPÓRTER: Vermelho ou colorado?
CHESPIRITO: Não. Amarelo e azul.
REPÓRTER: Por que não escreve sobre futebol?
CHESPIRITO: Estou dedicado a escrever. Prosa e poesía.
REPÓRTER: Poesía?
CHESPIRITO: Vão lançar nos próximos días, aqui na Colombia, três livros com meus poemas.
REPÓRTER: Qual prefere?
CHESPIRITO: Todos. Mas há um que me estremece cada vez que o declamo. Quer ouvir?
Vais morrer, mineiro.
Terminou o pequeno e triste tempo
em que só um buraco foi teu aposento.
Se pode expressar, entretanto,
uma sentença segura:
que em tua morada futura
não haverá grande diferença,
pois a mina foi em essência
tua primeira sepultura.
Essa foi tua triste sina:
Ao perfurar socavões
foram teus mesmos pulmões guarida da assassina.
Poeira cara...poeira fina...
poeira do mal... de um mal arteiro....
E vais morrer, mineiro,
Sem saber que quem te mata
é a poeira da prata
que nunca foi teu dinheiro.
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Um comentário:
amo o chespirito lindo do meu coração
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