ESPECIAL CHEERS | PARTE 3

No Brasil, Cheers não é exibido na TV aberta. Se foi um dia, o privilégio coube à Band ou Canal 21.  Não temos a confirmação disso: procuramos a assessoria da emissora, mas não obtivemos resposta. Consultamos os colunistas de TV mais familiarizados com o tema: Daniel Castro e Patricia Kogut. Apesar de ambos não saberem responder, Kogut nos parabenizou pelo blog, afirmando que ele é "ótimo". Não perdemos a viagem!

Anos atrás, o canal fechado Sony exibiu pelo menos até a 6ª temporada, com chamadas que anunciavam "a comédia número 1 de todos os tempos"*. Prepotência? Antes de qualquer julgamento, assista a Cheers e verá que se não a afirmação não for verdadeira, não falta muito para que seja. 

Os brasileiros que quiserem conhecer Cheers terão que recorrer aos DVDs. Apenas 3 temporadas foram lançadas pela Paramount, e as demais não estão nos planos. O preço dos costuma ser acessível, mas corra: ao fim dos que estão no estoque, é certo que a a distribuidora não irá repor.

Coincidentemente, essas 3 temporadas são as únicas que contam com todo o elenco original.

Sam e Diane se amavam, mas viviam brigando. Já conhecemos esta fórmula, mas em Cheers ela foge do lugar-comum. Eles passam toda a 1ª temporada em peleja, até descobrirem a incontrolável atração que sentem um pelo outro. Na 2ª, eles engatam um namoro, até que Diane se deixa pintar pelo artista Philip Semenko (Christopher Loyd), um recente inimigo de Sam.

Isso culmina na briga mais séria do casal, e Diane diz a Sam que vai embora. E ao sair por aquela porta, não voltará nunca mais. Ele: "Espera! Antes eu tenho uma coisa pra te dizer". Ela: "O quê?" - "Cai fora daqui". A moça o alerta: você está cruzando um limite perigoso. Mas não havia salvação, e o romance e a 2ª temporada chegam ao fim.

No ano seguinte, o fim do namoro não foi bom para nenhum deles: Sam voltou a beber, deixando todos aflitos. E ninguém podia tocar no assunto da separação, porque Carla punia quem tocasse no nome de Diane.

Coach, que já tinha passado por isso na época em que o treinou, tomou uma atitude desesperada e conseguiu fazer com que Diane visitasse o Cheers. Sam não gostou da ideia, mas Diane contou que veio para ajudar: "Eu só quero apresentá-lo a um amigo meu. Eu o conheci recentemente no sana... nas férias". Carla completou: "Ela ficou trancada num sanatório para doidos em Connecticut por 3 meses!", e Diane: "Não fiquei trancada, podia ir e vir quando quisesse, além do mais não é verdade, e como você soube?". É que a rival tinha contratado um espião. E o amigo que Diane trouxe para ajudar Sam foi o psiquiatra Frasier Crane (Kelsey Grammer), em sua estreia na série. Era também o novo namorado de Diane, que acaba concordando que ela voltasse a trabalhar no bar.

Quase no fim da 3ª temporada, o elenco se despedia de Nicholas Colasanto - o "Coach" Ernie Pantusso, que faleceu em fevereiro de 1985 aos 61 anos, após as gravações do episódio "O bota-fora" ("Cheerio, Cheers"). Em sua última cena o ator, triste e de sobretudo preto, dá adeus a Diane e cruza a porta do bar para nunca mais voltar, numa cena inesquecível.

Frasier e Diane resolvem se casar. Sam foi impedir que isso aconteça, mas além de não encontrar os noivos, ele não precisava ter se esforçado tanto, já que Diane abandonara o outro no altar. Para muitos brasileiros, Cheers termina aí.

Na 4ª temporada, conhecemos Woody Boyd (Woody Harrelson), que chega ao Cheers procurando pelo Coach. É aí que Sam dá a notícia do falecimento do Treinador (sim, ele também morreu na série), e ele foi homenageado em vários outros episódios. Woody acaba sendo contratado como novo barman, e é um legítimo herdeiro do humor do antecessor: a graça vem da ingenuidade, da incapacidade de entender piadas óbvias, e de uma burrice limpa de qualquer maldade. O jovem teve grande aceitação do público, pois não veio para tomar o lugar de Coach, mas ajudou a preencher o vazio.

Mesmo abandonado pela noiva, Frasier continua frequentando o bar. Primeiro como participação especial, até ser efetivado no elenco da 5ª temporada, que ainda reservaria mais surpresas: era a despedida de Diane, por opção da atriz Shelley Long.

Os produtores trataram de demonizar Diane na sua última temporada. Uma amostra: num barco alugado, à beira-mar, sob a luz da lua, Sam resolveu pedir a mão da amada em casamento. Emocionada, ela diz: "Não". E Sam: "Você tem duas opções: ou você pula, ou eu te jogo". Ela tenta dissuadí-lo, mas ao reler as opções, resolve se jogar. Meses depois, ela o convence a fazer novamente o pedido, e aceita.

A saída traumática de Diane aconteceu na season finale "I do and Adieu". No dia do casamento, ela recebe uma proposta para virar escritora e decide ir atrás do seu sonho, com o apoio de Sam. Promete que vai voltar, mas ele sabe que isso não vai acontecer, e aceita silenciosamente.

Na 6ª temporada, a vaga foi ocupada por Kirstie Alley, no papel de Rebecca. Sam tinha vendido o bar para embarcar num cruzeiro, sozinho. Quando volta, o Cheers está no comando da bela moça, que só se interessa por homens ricos. Ela e Sam acabam tendo um caso, e resolvem até ter um filho juntos. O romance, porém, não dá em nada.

Ainda na 4ª temporada, Frasier apresentara sua namorada Lilith Sternin (Bebe Neuwirth), uma frígida psiquiatra, mulher extremamente racional. No 8º ano da série ela vira personagem fixo, chegando a engravidar do único filho de Frasier. Os dois se casam, mas Lilith o trai com um colega de profissão.

Após o choque, Frasier pensa até em se matar, mas pelo bem do filho, resolve apenas dar um pé naquela bunda freudiana.

Carla Maria Victoria Angelina Teresa Apollonia Lozupone Tortelli LeBec, filha do Sr. Benito e da dona Mussolini, encerrou a série com 8 filhos gerados - fértil, rancorosa e sarcástica. Sua maior vítima é o pobre Cliff Clavin, só porque o carteiro mora com a mãe, não pega ninguém, e que adora compartilhar seus fatos e histórias inúteis. Quem dá mais atenção a ele é seu melhor amigo Norm, certamente por não querer se dar ao trabalho de sair do seu lugarzinho no balcão sempre que Cliff se põe a falar.

Norm é o retrato perfeito do boêmio que foge dos problemas de casa passando mais tempo no bar. A esposa Vera é sempre citada mas nunca vimos seu rosto - fórmula que serviu de inspiração até mesmo em Friends (é só lembrar do "cara feio e pelado").

"One for the road": A saideira

No último episódio, Diane volta ao Cheers após 6 anos, e é tratada como o verdadeiro anticristo. Ela e Sam marcam um jantar com seus respectivos "namorados", mas um só queria parecer bem frente ao outro.

Sam leva Rebecca, que estava em crise porque acabara de ser pedida em casamento por um encanador (logo ela, uma interesseira). Amava-o, mas não conseguiu aceitar porque ele era pobre. Já Diane leva um rapaz que, no final das contas, é gay (ela sabia). Quando os respectivos namorados aparecem, o ex-casal fica a sós no restaurante e constata que seus planos fracassaram do mesmo jeito.


É fato consumado: Sam e Diane são almas-gêmeas. Ela o convence a ir embora da cidade, deixando tudo para trás. O pessoal do Cheers tenta convencer Sam a ficar, mas ele estava decidido. Dentro do avião, os dois começam a ter "delírios", ouvindo as vozes de Frasier, Carla e cia. alertando sobre a loucura que estavam prestes a fazer.

Apesar de almas-gêmeas, os dois finalmente entendem que tinham destinos separados; e acabam aceitando isso. Os planos fuga são abortados, e Sam volta ao Cheers, para fechar as portas pela última vez.

 Informação acrescida graças à colaboração do parceiro Hamilton

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