ESPECIAL PARTE 1
Quando começou a interpretar o Chaves, Roberto Gomez Bolaños tinha lá pros seus quarenta anos. Ao fim, era um senhor de mais de sessenta anos tentando se passar por um menino de oito.
Mas ninguém tira os méritos de Chespirito, por ter conseguido idealizar um seriado tão simples que é sucesso nos países em que é exibido - entrará pro Guinness por ter alcançado o primeiro lugar em audiência, pelo menos uma vez, em todos eles.
Nada é tão simples. Bolaños criou todos os personagens de todos os seriados, escrevia cada um deles, e ainda corria vários países fazendo shows com o grupo. Pra quem não gosta, Chaves é só um repeteco de um garoto que só sabe chorar e dizer que ninguém tem paciência com ele. É, tem gente que pensa isso, mas Deus sabe perdoar.
Chespirito manteve ótima disposição física durante vários anos em que gravou Chaves e Chapolin. Não bastasse isso, seus textos conseguiam se superar com o passar do tempo, e se no começo as séries eram curtas, sem estrutura e sem profundidade, aos poucos ele reciclava aqueles mesmos textos e os lapidava até alcançar clássicos de vinte minutos.
Mas como toda fonte seca, as lapidações de Bolaños começaram a virar rotina, e estavam mais para reciclagem nos últimos anos da série. Velho e abatido por várias perdas no elenco, ele não conseguia mais ter novas idéias, e as suas séries foram afundando até caírem na faca.
Recentemente, Chespirito foi eleito o segundo melhor comediante do México, perdendo pro "Cantinflas". Conhece? Eu não.
Independente de ser ou não melhor que o Cantinflas, o que aconteceu é bem simples. Cantinflas já morreu há mais de 15 anos, e tudo o que sobrou da sua obra é clássico. Já Bolaños continua vivo, desgastou a sua imagem até meados dos anos 90 interpretando o Chaves mesmo absolutamente fora do físico ideal, e não bastasse isso, vira e mexe anda dando pitacos sobre aborto e até aparece em campanhas políticas pedindo voto para alguém. Meses atrás, rolava no Youtube vídeos em que Bolaños e Florinda pedem votos para Vicente Fox, que seria eleito presidente no México. Esses vídeos não mais são encontrados, e o que temos aqui é apenas Bolaños pedindo votos para o PAN - Partido Acción Nacional (essa sigla, no Brasil, significa Partido dos Aposentados da Nação, hehe).
CHESPIRITO PEDE VOTOS PARA O PAN
Em espanhol, sem legendas.
Em ambos os vídeos, Bolaños mete o bedelho onde não devia, e acabou por causar a ira de muitos mexicanos, principalmente os que são a favor do aborto. É difícil pensar se ele faria isso nos tempos áureos dos seriados CH, onde ele dava ares de lucidez e de pessoa esclarecida - coisas que hoje, de todo, ele não parece. Mas é o Chespirito! Ele pode fazer o que quiser, eu vou continuar sendo fã. Mas nem por isso aprovo tudo o que ele faz, nem tudo o que ele defende.
O que Chespirito tem a ver com os Trapalhões?
Considerando a relativa decadência criativa, e se juntarmos algumas coisas, veremos certa semelhança entre o Chespirito e o Didi, o Renato Aragão.
Alcançada a formação definitiva, junto com o Dedé, Mussum e Zacarias, os Trapalhões foram o que de melhor já se produziu no Brasil em matéria de humor, perdendo só pra Chico Anysio, aquele que inventou mais de 200 personagens. As esquetes dos Trapalhões eram bem variadas, e as interpretações nunca decepcionaram. Mas, com a morte de Mussum e Zacarias, Didi partiu para carreira solo e até hoje insiste com o personagem, que já devia ter sido engavetado em nome dos bons tempos, e há uns dez anos nos castiga com a Turma do Didi, a pior coisa que ele já fez na televisão.
De jeito nenhum A Turma do Didi chega aos pés do programa Chespirito, mesmo em seus últimos anos. A série de Renato Aragão adquiriu a desconfortável mania de economizar na elaboração de roteiros e acabou por encenar piadas populares, aquelas que não têm dono e quem quiser que use, como fazem humoristas de A Praça é Nossa e do Zorra Total.
Já Chespirito, por mais que suas idéias estivessem se esvaziando, sempre copiou a si próprio. Ou seja, não embarcou na apropriação das piadas dos outros, mas optou por reutilizar as que ele mesmo criara. Sem contar que as frases das suas esquetes, mesmo as menos populares aqui no Brasil, ainda são consideradas pérolas no folclore mexicano. Vide o "não há de queijo, só de batatas", bordão da esquete do Pancada (Chaparrón Bonaparte).
Boatos davam conta de que em 2008, A Turma do Didi seria cancelada, mas parece que o meu pedido ainda não chegou até Deus.
Voltando à comparação entre os dois humoristas, a história de Chespirito também é marcada por desfalques, mas nem todos por mortes. Primeiro, Carlos Villagrán, o Kiko, se desligou do grupo em pleno auge pra estrelar seu próprio seriado na Venezuela, fazendo a alegria do menino Hugo Chávez, e elevando o Nhonho ao posto de novo melhor amigo do Chaves. Depois, Ramón Valdez, o Seu Madruga, foi se juntar ao Kiko na nova empreitada.
Nesse meio-tempo, em Chaves, a desculpa para o sumiço de Kiko era que ele tinha ido morar com a madrinha rica, e o desaparecimento do Seu Madruga não chegou a ser mencionado. A Chiquinha morou sozinha por um tempo, até a chegada da sua bisavó Dona Neves, e foi uma boa sacada, o seriado agradeceu. Anos depois, Seu Madruga retorna mas acaba abandonando o grupo novamente, desta vez por problemas de saúde que viriam a vitimá-lo em 1988.
Depois disso, o carteiro Jaiminho assumiu o papel de resmungão da vizinhança e substituiu o Seu Madruga nos remakes dos episódios antigos.
Os DVDs da série.
Há alguns anos, no México, a Televisa começou a lançar os melhores momentos da turma do Chaves em DVD - incluindo o Chapolin e outras esquetes do Chespirito.
Lançados no Brasil em formato de box, cá pra nós, não vale tanto a pena comprar esses DVDs. A Televisa adota a mesma estratégia idiota da Globo e da Disney com os seus produtos - e é justamente essa idéia de lançar só os "melhores momentos", logo isso que é uma idéia tão relativa. Duvido que você ache algum sitcom da Disney em temporadas completas, e até agora a Globo só disponibiliza todos os episódios do seriado Os Normais - e mesmo assim isso se deu de forma pingada.
Em um disco de DVD caberiam inúmeros episódios, mas a Televisa só uma média de cinco, mais bônus (2 esquetes do Chespirito), totalizando menos de 1 hora de rodagem. Pra você ter uma idéia de como isso é irrisório, nos camelôs você encontra 5 DVDs oficiais do Chaves compilados em 1 único disco.
Outro ponto dos DVDs da Amazona Filmes/Televisa Home Entertainment é a redublagem. Por um lado isso é fundamental, já que abre espaço para episódios inéditos que sequer foram comprados pelo SBT. Por outro lado, as vozes não são as mesmas. Independente de alguns dubladores terem permanecido, muitos estão com a voz distante de como era nos episódios de mais de 20 anos atrás - claro, até porque 20 anos não são pouca coisa.
Mas a dublagem é um ponto crucial em todos os episódios que conhecemos de Chaves e Chapolin. O grupo reunido num estúdio improvisado do SBT no começo dos anos 80, liderados por Marcelo Gastaldi e por Nelson Machado, conseguia fazer milagres com os seriados de Bolaños e adaptá-los à realidade brasileira, lingüística e até social. Não devemos nos esquecer das aulas de história na escolinha do Professor Jirafales, que na dublagem contam como Pedro Álvares Cabral chegou ao Brasil em 1500, substituindo a história mexicana de Hernan Cortés.
Nos DVDs oficiais e no recente desenho do Chaves, a equipe de dublagem não é exatamente a mesma dos episódios que clássicos do SBT.
Os dubladores.
Sem a dublagem dos estúdios Maga, do Sbt, Chaves nunca teria se tornado o que é hoje no Brasil.
A equipe liderada por Marcelo Gastaldi (voz do Chaves) e por Nelson Machado (Kiko) tratou os seriados com o maior respeito, sem contar que cada voz se encaixou de forma louvável nos autores.
A verdadeira voz de Ramon Valdez é seca e rouca, nada a ver com a voz grave e forte de Carlos Seidl. Assim, fica difícil comparar o Dón Ramón (que o Chavo freqüentemente chamava de Ron Damon) com nosso Seu Madruga (que às vezes o Chaves chamou de Meu Sadruga). Sabe Deus de onde surgiu o nome "Seu Madruga"; na dublagem brasileira ele só é chamado de Ramon em um episódio. Mas não tem pra ninguém, o Madruguinha (cujo epíteto carinhoso por lá é Monchito) virou lenda e é um dos personagens mais festejados do seriado. Ponto para a atuação cheia de caras feias do Ramón Valdez, e ponto pro Carlos Seidl, que deu a voz certa ao ator.
Hoje o Carlos vira e mexe aparece em novelas da Globo em participações-relâmpago, dubla o genial Lionel Luthor em Smallville, e - embora alguns não acreditem - é dele mesmo a voz do Seu Madruga do desenho do Chaves. O que aconteceu é que a voz não é mais a mesma, o Madruga animado range mais que o necessário, sua voz normal está mais rouca - e mais próxima da de Valdez - e menos versátil. Vide os episódios dos DVDs oficiais do Chapolin em que ele dubla personagens idosos. Não tem mais graça nenhuma. Mas é a vida, os bons tempos passam.
Talvez a que mais se adequara tenha sido a dublagem de Marta Volpiani, nos personagens de Florinda Meza, a Dona Florinda. Sua voz se assemelha muito à original, e ao mesmo tempo dá um toque de experiência e segurança às personagens que dubla. Hoje, sua voz está perdeu um pouco a "doçura", o que compremete algumas dublagens, mais especificamente as das donzelas do Chapolin.
A voz do Kiko, e todas as vozes incríveis que o Nelson Machado emprestou aos personagens do Carlos Villagran, são espetáculos. Se você ouvir o Kiko original, vai notar muita diferença. Mas parece que o Villagran nasceu pra ser dublado pelo Nelson. O cara faz voz de Kiko, de cara sério, de retardado, de bandido, e do que mais ele quiser. É também dele a voz do Mr. Bean e de Glommer, do desenho da Punky, mas ficou afastado do desenho do Chaves. Foi substituído por Ivo Roberto (o Kero de Sakura Card Captors). Nelson chegou a explicar sua ausência nos desenhos da série. Segundo ele, foi culpa do SBT, que não aceitou as suas exigências contratuais, a despeito da Amazonas Filmes, que mesmo sendo uma empresa pequena, cumpriu tudo o que ele requisitou. Aproveitando que ficou de fora, Nelson também chegou a declarar que não gosta do desenho.
Os episódios em que o Prof. Jirafales (Ruben Aguirre) está com a voz mais em tom de bolero, são os dublados por Potiguara Lopes, que falecera em 1993. A segunda voz, mais conhecida, é a de Osmiro Campos. Um dos atores que mais "agradecem" uma boa dublagem é, sem dúvida, o Ruben Aguirre, que tem uma voz trôpega e pouco autoritária.
Osmiro também está presente no desenho do Chaves, décadas depois de suas atuações geniais na dublagem dos seriados, dá pra notar Osmiro hoje está com a voz gasta.
Mal dá pra notar, mas a Chiquinha também teve 2 dubladoras. A primeira foi Sandra Mara Azevedo, que saiu após poucos episódios e foi substituída pela Cecília Lemes. A voz de Sandra Mara está no episódio das lagartixas - segundo dizem, o primeiro a ser dublado -, e mais alguns outros, mas que só percebemos quando prestamos atenção. A nova dubladora, Cecília, ajudou a destacar ainda mais a malandragem da personagem, usando a sua voz sem maquiagens e dando assim um ar mais maduro à Chiquinha - coisa que a Maria Antonieta não fez. Sem contar que a voz da Dona Neves ficou sensacional. Cecília Lemes não canta (pelo menos não é algo que se diga "Minha nossa, como ela canta", hehe), ao contrário da atriz Maria Antonieta de las Nieves, mas também podemos diferenciar a Chiquinha Rox da Chilindrina, pelo trabalho genial de Cecília. Ela também dublou a Patty em alguns episódios.
Veja uma participação de Cecília ao lado de Marcelo Gastaldi na estréia do programa Acredite Se Puder, do Gugu - que inspirou um dos quadros do programa do Marcio Garcia.
Marcelo Gastaldi é o pai do Chaves brasileiro. Dono da empresa de dublagem Maga, ele também dirigia os trabalhos dos atores brasileiros.
O trabalho deles é incrível, não dá pra explicar o quanto. Mas é muito. Dá a impressão de que o trabalho era feito com tanto cuidado que o grupo assistia aos episódios inteiros antes de dublar, e não "cada um só assiste a sua deixa" , como se faz hoje. Não sei se eles faziam assim exatamente, mas de qualquer jeito... ficou perfeito.
Gastaldi Experimentou vozes mais finas nos primeiros episódios que dublou, e foi encontrando o tom no decorrer dos anos. Dado a cantor (já integrou a banda Os iguais), o Gastaldi encabeçou a equipe dos estúdios Maga e lá criou o Chaves. Se eles tivessem traduzido El Chavo del Ocho para o português, provavelmente hoje estaríamos chamando o menino do barril de O Guri do Oito, argh, ou outro nome qualquer. Mas não, graças a eles, é só Chaves. A tradução literal e descuidada poderia causar o fracasso de Chaves logo nos primeiros anos aqui no Brasil. E se não fosse o grupo de Gastaldi, os bordões poderiam ter ficado assim:
"Tinha que ser o Guri do Oito!" - Seu Barriga
"Tá bom, mas não se enoje" - Chaves
"Cale-se, cale-se, que você me desespera!" - Kiko
"Se liga se liga se liga se liga" - Chiquinha. Note-se que em um episódio, o Seu Madruga até fala isso.
"Não simpatiza comigo?" - Kiko
"Vamos, Kiko, não se junte com essa turma" - Dona Florinda
"Turma, turma!" - Kiko
Ao invés de "Não deu", Kiko falaria "Me dói!". E também poderíamos ver diferente a melação do professor com a Dona Florinda. Poderiam ficar assim:
— Profesor Jirafales...!
— Dona Florinda...!
— Que milagre que venha por aqui...!
— Vim trazer-te este humilde obséquio.
— Ah, obrigada! Mas, não gostaria de passar a tomar uma xícara de café?
— Não será muita moléstia?
— Ai, não, nenhuma! Passe o senhor.
— Depois da senhora.
Gastaldi faleceu em 1995, vítima de um atropelamento de carro. Recentemente também perdemos outros ícones da versão brasileira, insubstituíveis. Mário Vilela (voz do Seu Barriga) morreu em 2005, por problemas no coração. E a grande Helena Samara (Bruxa do 71) é a perda mais recente, vindo a óbito em 2007, por falência múltipla de órgãos. Chegou a dublar episódios nos DVDs e no desenho animado, e será substituída pela Beatriz Loureiro.
Quem também vem deixando sua marca, nas novas dublagens, é o jovem Gustavo Berriel, fã do Chespirito que teve a honra de ser escalado para integrar o novo time de dubladores. É dele a nova voz do Nhonho, que ficou totalmente excelente, e a do Jaiminho, que ficou espantosamente semelhante à dublagem original. Ah, a título de curiosidade, no México, nenhum dos atores empresta a voz aos personagens do desenho animado. Nem os vivos fazem esse trabalho, nem os mortos ressuscitaram. Foi escalado um time de dubladores mexicanos para os papéis. E, mesmo que você não goste do Kiko na voz do Ivo Roberto, saiba que a voz do brasileiro é idêntica à original mexicana.
De quando em quando, Gustavo Berriel dá informações supimpas no seu blog sobre o andar da carruagem dos DVDs e dos novos episódios do desenho do Chaves. Recentemente, o SBT solicitou novos trabalhos dos dubladores em cima de episódios inéditos do Chaves (até agora só Chaves), e o Berriel adiantou que muitos já estão prontos e com duração de aproximadamente 50 minutos (ou seja, várias esquetes agrupadas), só aguardando o "vai, pode passar!" do Silvio Santos.
Mas ninguém tira os méritos de Chespirito, por ter conseguido idealizar um seriado tão simples que é sucesso nos países em que é exibido - entrará pro Guinness por ter alcançado o primeiro lugar em audiência, pelo menos uma vez, em todos eles.
Nada é tão simples. Bolaños criou todos os personagens de todos os seriados, escrevia cada um deles, e ainda corria vários países fazendo shows com o grupo. Pra quem não gosta, Chaves é só um repeteco de um garoto que só sabe chorar e dizer que ninguém tem paciência com ele. É, tem gente que pensa isso, mas Deus sabe perdoar.
Chespirito manteve ótima disposição física durante vários anos em que gravou Chaves e Chapolin. Não bastasse isso, seus textos conseguiam se superar com o passar do tempo, e se no começo as séries eram curtas, sem estrutura e sem profundidade, aos poucos ele reciclava aqueles mesmos textos e os lapidava até alcançar clássicos de vinte minutos.
Mas como toda fonte seca, as lapidações de Bolaños começaram a virar rotina, e estavam mais para reciclagem nos últimos anos da série. Velho e abatido por várias perdas no elenco, ele não conseguia mais ter novas idéias, e as suas séries foram afundando até caírem na faca.
Recentemente, Chespirito foi eleito o segundo melhor comediante do México, perdendo pro "Cantinflas". Conhece? Eu não.
Independente de ser ou não melhor que o Cantinflas, o que aconteceu é bem simples. Cantinflas já morreu há mais de 15 anos, e tudo o que sobrou da sua obra é clássico. Já Bolaños continua vivo, desgastou a sua imagem até meados dos anos 90 interpretando o Chaves mesmo absolutamente fora do físico ideal, e não bastasse isso, vira e mexe anda dando pitacos sobre aborto e até aparece em campanhas políticas pedindo voto para alguém. Meses atrás, rolava no Youtube vídeos em que Bolaños e Florinda pedem votos para Vicente Fox, que seria eleito presidente no México. Esses vídeos não mais são encontrados, e o que temos aqui é apenas Bolaños pedindo votos para o PAN - Partido Acción Nacional (essa sigla, no Brasil, significa Partido dos Aposentados da Nação, hehe).
CHESPIRITO CONTRA O ABORTO
Em espanhol, sem legendas.
Em espanhol, sem legendas.
CHESPIRITO PEDE VOTOS PARA O PAN
Em espanhol, sem legendas.
Em ambos os vídeos, Bolaños mete o bedelho onde não devia, e acabou por causar a ira de muitos mexicanos, principalmente os que são a favor do aborto. É difícil pensar se ele faria isso nos tempos áureos dos seriados CH, onde ele dava ares de lucidez e de pessoa esclarecida - coisas que hoje, de todo, ele não parece. Mas é o Chespirito! Ele pode fazer o que quiser, eu vou continuar sendo fã. Mas nem por isso aprovo tudo o que ele faz, nem tudo o que ele defende.
O que Chespirito tem a ver com os Trapalhões?
Considerando a relativa decadência criativa, e se juntarmos algumas coisas, veremos certa semelhança entre o Chespirito e o Didi, o Renato Aragão.
Alcançada a formação definitiva, junto com o Dedé, Mussum e Zacarias, os Trapalhões foram o que de melhor já se produziu no Brasil em matéria de humor, perdendo só pra Chico Anysio, aquele que inventou mais de 200 personagens. As esquetes dos Trapalhões eram bem variadas, e as interpretações nunca decepcionaram. Mas, com a morte de Mussum e Zacarias, Didi partiu para carreira solo e até hoje insiste com o personagem, que já devia ter sido engavetado em nome dos bons tempos, e há uns dez anos nos castiga com a Turma do Didi, a pior coisa que ele já fez na televisão.
De jeito nenhum A Turma do Didi chega aos pés do programa Chespirito, mesmo em seus últimos anos. A série de Renato Aragão adquiriu a desconfortável mania de economizar na elaboração de roteiros e acabou por encenar piadas populares, aquelas que não têm dono e quem quiser que use, como fazem humoristas de A Praça é Nossa e do Zorra Total.
Já Chespirito, por mais que suas idéias estivessem se esvaziando, sempre copiou a si próprio. Ou seja, não embarcou na apropriação das piadas dos outros, mas optou por reutilizar as que ele mesmo criara. Sem contar que as frases das suas esquetes, mesmo as menos populares aqui no Brasil, ainda são consideradas pérolas no folclore mexicano. Vide o "não há de queijo, só de batatas", bordão da esquete do Pancada (Chaparrón Bonaparte).
Boatos davam conta de que em 2008, A Turma do Didi seria cancelada, mas parece que o meu pedido ainda não chegou até Deus.
Voltando à comparação entre os dois humoristas, a história de Chespirito também é marcada por desfalques, mas nem todos por mortes. Primeiro, Carlos Villagrán, o Kiko, se desligou do grupo em pleno auge pra estrelar seu próprio seriado na Venezuela, fazendo a alegria do menino Hugo Chávez, e elevando o Nhonho ao posto de novo melhor amigo do Chaves. Depois, Ramón Valdez, o Seu Madruga, foi se juntar ao Kiko na nova empreitada.
Nesse meio-tempo, em Chaves, a desculpa para o sumiço de Kiko era que ele tinha ido morar com a madrinha rica, e o desaparecimento do Seu Madruga não chegou a ser mencionado. A Chiquinha morou sozinha por um tempo, até a chegada da sua bisavó Dona Neves, e foi uma boa sacada, o seriado agradeceu. Anos depois, Seu Madruga retorna mas acaba abandonando o grupo novamente, desta vez por problemas de saúde que viriam a vitimá-lo em 1988.
Depois disso, o carteiro Jaiminho assumiu o papel de resmungão da vizinhança e substituiu o Seu Madruga nos remakes dos episódios antigos.
Os DVDs da série.
Há alguns anos, no México, a Televisa começou a lançar os melhores momentos da turma do Chaves em DVD - incluindo o Chapolin e outras esquetes do Chespirito.
Lançados no Brasil em formato de box, cá pra nós, não vale tanto a pena comprar esses DVDs. A Televisa adota a mesma estratégia idiota da Globo e da Disney com os seus produtos - e é justamente essa idéia de lançar só os "melhores momentos", logo isso que é uma idéia tão relativa. Duvido que você ache algum sitcom da Disney em temporadas completas, e até agora a Globo só disponibiliza todos os episódios do seriado Os Normais - e mesmo assim isso se deu de forma pingada.
Em um disco de DVD caberiam inúmeros episódios, mas a Televisa só uma média de cinco, mais bônus (2 esquetes do Chespirito), totalizando menos de 1 hora de rodagem. Pra você ter uma idéia de como isso é irrisório, nos camelôs você encontra 5 DVDs oficiais do Chaves compilados em 1 único disco.
Outro ponto dos DVDs da Amazona Filmes/Televisa Home Entertainment é a redublagem. Por um lado isso é fundamental, já que abre espaço para episódios inéditos que sequer foram comprados pelo SBT. Por outro lado, as vozes não são as mesmas. Independente de alguns dubladores terem permanecido, muitos estão com a voz distante de como era nos episódios de mais de 20 anos atrás - claro, até porque 20 anos não são pouca coisa.
Mas a dublagem é um ponto crucial em todos os episódios que conhecemos de Chaves e Chapolin. O grupo reunido num estúdio improvisado do SBT no começo dos anos 80, liderados por Marcelo Gastaldi e por Nelson Machado, conseguia fazer milagres com os seriados de Bolaños e adaptá-los à realidade brasileira, lingüística e até social. Não devemos nos esquecer das aulas de história na escolinha do Professor Jirafales, que na dublagem contam como Pedro Álvares Cabral chegou ao Brasil em 1500, substituindo a história mexicana de Hernan Cortés.
Nos DVDs oficiais e no recente desenho do Chaves, a equipe de dublagem não é exatamente a mesma dos episódios que clássicos do SBT.
Os dubladores.
Sem a dublagem dos estúdios Maga, do Sbt, Chaves nunca teria se tornado o que é hoje no Brasil.
A equipe liderada por Marcelo Gastaldi (voz do Chaves) e por Nelson Machado (Kiko) tratou os seriados com o maior respeito, sem contar que cada voz se encaixou de forma louvável nos autores.
A verdadeira voz de Ramon Valdez é seca e rouca, nada a ver com a voz grave e forte de Carlos Seidl. Assim, fica difícil comparar o Dón Ramón (que o Chavo freqüentemente chamava de Ron Damon) com nosso Seu Madruga (que às vezes o Chaves chamou de Meu Sadruga). Sabe Deus de onde surgiu o nome "Seu Madruga"; na dublagem brasileira ele só é chamado de Ramon em um episódio. Mas não tem pra ninguém, o Madruguinha (cujo epíteto carinhoso por lá é Monchito) virou lenda e é um dos personagens mais festejados do seriado. Ponto para a atuação cheia de caras feias do Ramón Valdez, e ponto pro Carlos Seidl, que deu a voz certa ao ator.
Hoje o Carlos vira e mexe aparece em novelas da Globo em participações-relâmpago, dubla o genial Lionel Luthor em Smallville, e - embora alguns não acreditem - é dele mesmo a voz do Seu Madruga do desenho do Chaves. O que aconteceu é que a voz não é mais a mesma, o Madruga animado range mais que o necessário, sua voz normal está mais rouca - e mais próxima da de Valdez - e menos versátil. Vide os episódios dos DVDs oficiais do Chapolin em que ele dubla personagens idosos. Não tem mais graça nenhuma. Mas é a vida, os bons tempos passam.
Talvez a que mais se adequara tenha sido a dublagem de Marta Volpiani, nos personagens de Florinda Meza, a Dona Florinda. Sua voz se assemelha muito à original, e ao mesmo tempo dá um toque de experiência e segurança às personagens que dubla. Hoje, sua voz está perdeu um pouco a "doçura", o que compremete algumas dublagens, mais especificamente as das donzelas do Chapolin.
A voz do Kiko, e todas as vozes incríveis que o Nelson Machado emprestou aos personagens do Carlos Villagran, são espetáculos. Se você ouvir o Kiko original, vai notar muita diferença. Mas parece que o Villagran nasceu pra ser dublado pelo Nelson. O cara faz voz de Kiko, de cara sério, de retardado, de bandido, e do que mais ele quiser. É também dele a voz do Mr. Bean e de Glommer, do desenho da Punky, mas ficou afastado do desenho do Chaves. Foi substituído por Ivo Roberto (o Kero de Sakura Card Captors). Nelson chegou a explicar sua ausência nos desenhos da série. Segundo ele, foi culpa do SBT, que não aceitou as suas exigências contratuais, a despeito da Amazonas Filmes, que mesmo sendo uma empresa pequena, cumpriu tudo o que ele requisitou. Aproveitando que ficou de fora, Nelson também chegou a declarar que não gosta do desenho.
CHAVES EM DESENHO
MONTAGEM COM A DUBLAGEM MAGA
MONTAGEM COM A DUBLAGEM MAGA
Os episódios em que o Prof. Jirafales (Ruben Aguirre) está com a voz mais em tom de bolero, são os dublados por Potiguara Lopes, que falecera em 1993. A segunda voz, mais conhecida, é a de Osmiro Campos. Um dos atores que mais "agradecem" uma boa dublagem é, sem dúvida, o Ruben Aguirre, que tem uma voz trôpega e pouco autoritária.
Osmiro também está presente no desenho do Chaves, décadas depois de suas atuações geniais na dublagem dos seriados, dá pra notar Osmiro hoje está com a voz gasta.
Mal dá pra notar, mas a Chiquinha também teve 2 dubladoras. A primeira foi Sandra Mara Azevedo, que saiu após poucos episódios e foi substituída pela Cecília Lemes. A voz de Sandra Mara está no episódio das lagartixas - segundo dizem, o primeiro a ser dublado -, e mais alguns outros, mas que só percebemos quando prestamos atenção. A nova dubladora, Cecília, ajudou a destacar ainda mais a malandragem da personagem, usando a sua voz sem maquiagens e dando assim um ar mais maduro à Chiquinha - coisa que a Maria Antonieta não fez. Sem contar que a voz da Dona Neves ficou sensacional. Cecília Lemes não canta (pelo menos não é algo que se diga "Minha nossa, como ela canta", hehe), ao contrário da atriz Maria Antonieta de las Nieves, mas também podemos diferenciar a Chiquinha Rox da Chilindrina, pelo trabalho genial de Cecília. Ela também dublou a Patty em alguns episódios.
Veja uma participação de Cecília ao lado de Marcelo Gastaldi na estréia do programa Acredite Se Puder, do Gugu - que inspirou um dos quadros do programa do Marcio Garcia.
GASTALDI E CECÍLIA LEMES COM O GUGU
Marcelo Gastaldi é o pai do Chaves brasileiro. Dono da empresa de dublagem Maga, ele também dirigia os trabalhos dos atores brasileiros.
O trabalho deles é incrível, não dá pra explicar o quanto. Mas é muito. Dá a impressão de que o trabalho era feito com tanto cuidado que o grupo assistia aos episódios inteiros antes de dublar, e não "cada um só assiste a sua deixa" , como se faz hoje. Não sei se eles faziam assim exatamente, mas de qualquer jeito... ficou perfeito.
Gastaldi Experimentou vozes mais finas nos primeiros episódios que dublou, e foi encontrando o tom no decorrer dos anos. Dado a cantor (já integrou a banda Os iguais), o Gastaldi encabeçou a equipe dos estúdios Maga e lá criou o Chaves. Se eles tivessem traduzido El Chavo del Ocho para o português, provavelmente hoje estaríamos chamando o menino do barril de O Guri do Oito, argh, ou outro nome qualquer. Mas não, graças a eles, é só Chaves. A tradução literal e descuidada poderia causar o fracasso de Chaves logo nos primeiros anos aqui no Brasil. E se não fosse o grupo de Gastaldi, os bordões poderiam ter ficado assim:
"Tinha que ser o Guri do Oito!" - Seu Barriga
"Tá bom, mas não se enoje" - Chaves
"Cale-se, cale-se, que você me desespera!" - Kiko
"Se liga se liga se liga se liga" - Chiquinha. Note-se que em um episódio, o Seu Madruga até fala isso.
"Não simpatiza comigo?" - Kiko
"Vamos, Kiko, não se junte com essa turma" - Dona Florinda
"Turma, turma!" - Kiko
Ao invés de "Não deu", Kiko falaria "Me dói!". E também poderíamos ver diferente a melação do professor com a Dona Florinda. Poderiam ficar assim:
— Profesor Jirafales...!
— Dona Florinda...!
— Que milagre que venha por aqui...!
— Vim trazer-te este humilde obséquio.
— Ah, obrigada! Mas, não gostaria de passar a tomar uma xícara de café?
— Não será muita moléstia?
— Ai, não, nenhuma! Passe o senhor.
— Depois da senhora.
Gastaldi faleceu em 1995, vítima de um atropelamento de carro. Recentemente também perdemos outros ícones da versão brasileira, insubstituíveis. Mário Vilela (voz do Seu Barriga) morreu em 2005, por problemas no coração. E a grande Helena Samara (Bruxa do 71) é a perda mais recente, vindo a óbito em 2007, por falência múltipla de órgãos. Chegou a dublar episódios nos DVDs e no desenho animado, e será substituída pela Beatriz Loureiro.
Quem também vem deixando sua marca, nas novas dublagens, é o jovem Gustavo Berriel, fã do Chespirito que teve a honra de ser escalado para integrar o novo time de dubladores. É dele a nova voz do Nhonho, que ficou totalmente excelente, e a do Jaiminho, que ficou espantosamente semelhante à dublagem original. Ah, a título de curiosidade, no México, nenhum dos atores empresta a voz aos personagens do desenho animado. Nem os vivos fazem esse trabalho, nem os mortos ressuscitaram. Foi escalado um time de dubladores mexicanos para os papéis. E, mesmo que você não goste do Kiko na voz do Ivo Roberto, saiba que a voz do brasileiro é idêntica à original mexicana.
De quando em quando, Gustavo Berriel dá informações supimpas no seu blog sobre o andar da carruagem dos DVDs e dos novos episódios do desenho do Chaves. Recentemente, o SBT solicitou novos trabalhos dos dubladores em cima de episódios inéditos do Chaves (até agora só Chaves), e o Berriel adiantou que muitos já estão prontos e com duração de aproximadamente 50 minutos (ou seja, várias esquetes agrupadas), só aguardando o "vai, pode passar!" do Silvio Santos.
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