sábado, janeiro 30, 2016

De uma temporada para a outra, The Leftovers deixa de parecer com Lost e encontra seu rumo

Title card da segunda temporada

The Leftovers (HBO) é um exemplo vivo de como uma série mais ou menos pode se transformar em uma verdadeira obra de arte; ou pelo menos algo muito próximo disso.

A série estreou em 2014 e dividiu opiniões, trazendo uma trama propositalmente confusa. Daquelas "não vim aqui pra explicar, vim pra confundir". Ocorre que nem sempre funciona essa autoconfiança, que beira à arrogância propriamente dita. É um tiro no escuro, que poderia muito bem ser evitado se os produtores partissem da constatação de que ninguém é obrigado.

A primeira temporada, embora tenha sido razoável, flertou com o fiasco. E com Lost. Não só eu reparei, como boa parte dos críticos também entendeu isso como uma espécie de assinatura de Damon Lindelof, showrunner que trabalhou nas duas séries. Muitas dúvidas eram lançadas a cada episódio, em um ritmo desproporcional à quantidade de respostas. E vamos combinar né, de problemas sem solução já basta a minha vida.

Se você nunca ouviu falar, a trama é assim: no dia 14 de outubro, 2% da população mundial simplesmente desaparece, de uma hora para a outra. Não é sequestro, não é abdução, não é arrebatamento. Quer dizer, as duas últimas alternativas são até viáveis, se considerarmos que é uma série de fantasia, mas para  esse mistério em particular você vai precisar abrir bem o seu coração, porque a série não pretende explicar o porquê do sumiço. The Leftovers trata, na verdade, das consequências disso.

Três anos depois do inexplicável evento, as pessoas ainda tentam reconstruir as suas vidas ao redor das sequelas deixadas. Uma delas é justamente uma organização de fanáticos que se vestem de branco, e vivem a stalkear as pessoas. E fazem isso na maior cara de pau, geralmente vão em dupla, sempre com um cigarro à boca, e com um bloquinho de anotações (porque eles, embora não sejam mudos, não falam). Segundo eles, a intenção é fazer com que as pessoas "não esqueçam". E o pior é que tem gente que larga tudo pra se juntar a esse grupo.

O que mais me irritou na primeira The Leftovers, além da quantidade de mistérios (em certas ocasiões, dava pra ver que era uma coisa gratuita, eles faziam só pra confundir mesmo), foram os personagens. É difícil se identificar com alguém ali, pois são quase todos muito idiotas, ou egoístas, ou as duas coisas.

Assim se passou a primeira temporada, até que vem a segunda e corrige praticamente tudo. Enquanto aquela é inspirada no livro escrito por Tom Perrotta, a segunda é totalmente autoral e se desvincula do livro, sendo seguramente a melhor coisa que eles fizeram. A HBO resolveu dar uma chance à série para que conseguisse ser atrativa ao público, e passaram o bastão para novos produtores. E você consegue perceber como eles exerceram bem a criatividade ao trazer algumas respostas bem coerentes para mistérios do livro/temporada anterior que pareciam não ter pé nem cabeça.

Os episódios ganharam mais agilidade, a história mudou de foco, e uma parte dos personagens principais se mudou para outra cidade, para mudar de vida. E escolheram justamente a única cidade que teria sido poupada do 14 de Outubro, ou seja, ninguém ali desapareceu. E isso acabou criando um grande interesse turístico por aquela cidadezinha texana, que passou a se chamar Miracle. Novos personagens foram introduzidos, a fantasia foi bem aplicada e até a abertura eles mudaram.

Por falar nas aberturas, enquanto a primeira se levava a sério demais, a segunda adotou um tom mais despojado e escolheram uma música tão adequada que parece ter sido escrita para a série (embora seja de décadas atrás). E, não bastasse isso, é uma das coisas mais lindas que eu já ouvi em muito tempo.

Deixo a recomendação da série pra vocês, e a postagem se encerra com a letra (livremente) traduzida de Let the Mystery Be, tema de abertura da segunda temporada de The Leftovers, composta e interpretada por Iris Dement.

Let the mystery be (tradução)
Iris Dement


Everybody's wonderin' what and where
Todo mundo se perguntando do quê e de onde
They all came from

Todos eles vieram

Everybody's worryin' 'bout where they're gonna go
Todo mundo se perguntando pra onde eles vão
When the whole thing's done
 Quando isso tudo acabar
But no one knows for certain
Mas ninguém sabe ao certo
And so it's all the same to me 
Então dá na mesma pra mim
I think I'll just let the mystery be
Acho que eu vou só deixar o mistério rolar

Some say once gone you're gone forever
Tem quem diga que quando você se vai, é pra sempre
 And some say you're gonna come back
E outros dizem que você vai voltar
Some say you rest in the arms of the Savior
Tem quem diga que você vai repousar nos braços do Senhor
If in sinful ways you lack
Se dos caminhos pecaminosos você desviou
Some say that they're comin' back in a garden 
Tem uns que dizem que vão voltar em um jardim
Bunch of carrots and little sweet peas
Cheio de cenouras e ervilhinhas deliciosas
I think I'll just let the mystery be
 Mas ninguém sabe ao certo, então dá tudo na mesma pra mim
Everybody's wonderin' what and where
Todo mundo se perguntando do quê e de onde
They all came from

Todos eles vieram
Everybody's worryin' 'bout where they're gonna go
Todo mundo se perguntando pra onde eles vão
When the whole thing's done
 Quando isso tudo acabar
But no one knows for certain
Mas ninguém sabe ao certo
And so it's all the same to me 
Então dá na mesma pra mim
I think I'll just let the mystery be
Acho que eu vou só deixar o mistério rolar
Some say they're goin' to a place called Glory
Uns dizem que vão pra um lugar chamado Glória
And I ain't saying it ain't a fact
E eu não tô dizendo que não é verdade
But I've heard that I'm on the road to Purgatory
Mas eu andei ouvindo que tô indo rumo ao Purgatório
And I don't like the sound of that
E isso não tá me cheirando muito bem

I believe in love and I live my life accordingly 
Eu acredito no amor e tenho vivido a minha vida bem por aí
 But I choose to let the mystery be
Mas eu prefiro deixar o mistério rolar 

 
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